Um dia desconheci o mundo, era a época em que eu estava dentro do casulo. Ou da bolha. A bolha que eu interagia com quem estava dentro e tudo fora era muito embaçado, torpe e paranóico.
Outro dia eu quis agarrar o mundo com as mãos, com os braços, com as pernas, os pés e também quis abocanha-lo como se eu pudesse ingerir tudo que acontecesse, absorver tudo, acreditar em tudo, como em um rito antropofágico - onde uma guerreira, eu, comeria todos para absorver seu espírito, seus potenciais.
Acho que absorvi, absorvi tanto que fiquei fraca. Comi, comi, comi e fiquei com dor de estômago. Não tinha nada, não ingeri nada, era tudo tão vazio, fraco. Quando tinha algo, eu vomitava. Fiz greve. Mas comi em pequenas doses, as vezes eu só cheirava mas não comia. Muitas coisas ficaram só no nariz.
Mais outro dia eu nem estava cheirando, nem comendo, nem pegando, estava olhando e, de repente, o olhar penetrou a alma sem que eu sequer tocasse direito. Não foi invasivo, foi delicioso...
Então o mundo ficou parcial. Meio a meio.
Hoje em dia eu o pego na ponta dos dedos, cuidadosa como se pegasse em um cristal. Não que tudo seja digno de cuidados mas antes o cuidado e depois as atitudes que devem ser tomadas. As vezes eu aperto demais os dedos e o cristal se rompe, quebra bem na minha mão, espatifa em estilhaços e, muitas vezes, penetra minha pele fazendo sangrar. No entanto, nem sempre é de propósito o aperto forte, é tão sem sentido, quando vejo já está tudo ferido.
Quem sabe amanhã eu não aprenda a colocar na palma da mão, observar cautelosa e então viver.
É. Quem sabe...
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