terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quando toca Tim

Quanto toca Tim, toca Tun.
Não importa aonde, nem quando. É transcendental e meu corpo vai para outra área. Muitas áreas.
A de um dia da semana à noite, na meia luz do quarto onde dirigia-se, pelas primeiras vezes, o amor. Que até então era gostar. Onde só havia pele, essência e corações batendo. Onde a novidade sempre é nova.
A área de um sábado de madrugada, praça pública na cidade, pessoas, pessoas e pessoas. Aperto, cheiro incessante da droga verde, músicas cantadas por todas as vozes. O corpo só pedia aproximação de uma dança, o brilho dos olhos, mesmo que o pé esteja doendo, mesmo que esbarre mais alguém. O coração sabe onde está, ele bate frente a um peito que dança junto, transcende e hipnotiza, ama e sai de órbita.
A órbita feliz.

Quando toca Tim, toca Tun.
E quem fizer uso, quem dizer em vão, eu não estarei olhando, eu me transportarei para a boca que canta perto do meu ouvido e sorri com felicidade, faz pequena marca no rosto.
Porque eu correlaciono com facilidade e seu pensamento vem rápido na memória.
Quando toca Tim, toca Tun.
Eu lembro dos toques, do sentimento entorpecido que nunca acaba e tem beleza, eu faço uma oração e peço que nunca saia de mim. Nunca saia de nós.
Eu juro em nome do Tim, do Tun, que serei exclusivamente a sua menina (pensa que não vai ser possível?) e sua pessoa é eternamente gravada nesses nomes, com mais ninguém, mais nada, coisa nossa.
Jamais desvirtuará o sagrado.






"Toda vez que eu olho
Toda vez que eu chamo
Toda vez que eu penso
Em lhe dar
Ah! Ah!...O meu amor."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Tia Jandira

De idade, não menos que 50 nem mais que 60. Podia ser encontrada no corredor, banheiros ou encostada na parede conversando com as outras tias. Uniforme sempre azul, cabelo preso, pele amorenada. Seu rosto já tinha marcas de experiência, pequena, um tanto gorda e simpática. Aquele tipo de pessoa que a gente sempre vê, não dá muita importância mas simpatiza. Porque também tinha simpatia na Tia Jandira, acho que já a vi sorrir e sempre foi educada. Já pegou papel de secar a mão pra mim quando acabou.
Uma vez, indo pra biblioteca, a vimos de roupa cotidiana.
"Olha a Tia Jandira sem uniforme! Achou que ela acabou de chegar!"
Pessoa que a gente olha e sabe que a vida foi confinada ali. Após muitos anos, muitas coisas ou quase nada, restou ser servente de uma escola para garantir o dinheiro de cada mês. Olhar todos os dias para as promessas do futuro (ou não) que não aconteceu à ela.
Não se sabe da família, vida pessoal, do que gosta de comer e o que gosta de fazer. Sabe-se que passa uma máquina engraçada no chão, redonda e que gira, deixa o chão brilhando, que eu vim a descobrir que é uma enceradeira e que é uma peça muito antiga (me parecia moderna). Sabe-se que depois do surto da Gripe H1N1, ela sempre vinha com o álcool em gel na mão pra limpar as fechaduras, os bebedouros e os vidros, a cada intervalo.
Uma vez fechou a porta para limpar o vidro e o professor disse "tem que deixar aberta!". Foi engraçado.
Sabe-se que almoçava marmita na cozinha da escola. Sabe-se que sempre encontrava, sempre estava ali, não se sabe nada sobre a vida, mas sabe que nunca sairá dos corredores de qualquer andar que seja.
A não ser na Segunda-feira, em que fora anunciado: "Sabe a Tia Jandira? Servente que ficava aqui...ela veio sábado e domingo não precisou vir. Avisaram hoje, ela morreu."
Não se sabe a vida, não se sabe de nada, não se encontra mais em lugar algum.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vai acontecer uma coisa no céu e nossos olhos vão brilhar. A gente pode estar conversando, quietos ou emburrados. As mãos estarão dadas (sempre estão), e o céu vai pedir pra gente olhar pra cima. Fica quieto e vê alguma movimentação. Corações enlaçados olhando pro mesmo lugar, o estonteante acontecimento no céu!
Vi duas vezes o fim desse mundo nos meus sonhos. Um deles, eu ficava preocupada porque o mundo ia acabar, eu estava sem ele e não conseguia ligar.
Nunca dá pra ligar! O fim do mundo não deixou!
Mas o fim não existe pra nós. O que foi dito é concreto e é pra sempre. É o que se quer, e o que se quer é pra sempre.

Se um dia algo incrível acontecer no céu
eu vou querer olhar pro seu rosto brilhar, seus olhos atentos procurando entender e sua boca meio aberta, chocada e estática.
Tudo vai girar, ninguém vai entender, abaixo do céu vai parar. Tudo!
A gente vai sorrir!
Porque tudo parou e tem tempo pra largar as mãos e colocar as minhas em volta sua cintura e as suas no meu ombro.
Abraço.
Minha cabeça não bate exatamente no seu queixo mas eu posso te abraçar e, nem por isso, o abraço não se encaixa. Ô se encaixa! Parece até que alguém fabricou!
Será que fabricou?
Esse dia, o céu vai contar.

Do abraço, a boca aberta eu vou querer sentir.
O rosto iluminado eu vou pedir pro céu, o céu brilhante, para ver todos os dias.
E os olhos atentos, eu vou pedir pra olhar pra mim.
Repara em mim do mesmo jeito? Algo absurdamente belo acontece no céu, mas também acontece em mim. Não sei falar direito do que é mas eu sei que quando eu olho, olho você, tudo aquece e esfria, acelera e acalma e fica bom, nunca fica ruim, sua mão tocando meu dedo é suficiente pra eu sorrir.
Olha pra mim.
Meu brilho sai e envolve sua silhueta. Seu olho fica brilhando!
Eu fico feliz.

então o céu nos surpreende,
e aí eu amo você.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Monetário Inimigo

Com oito anos de idade. Eu disse oito. Eu já pensava: "será que daqui 10 anos tudo isso passa?"
porque é chato. Ligar pro pai, pedir dinheiro, se pedir, ele reclama. Diz que só serve pra isso, que tem cara de banco. Se eu não pedir, a mãe reclama e diz que eu não sei exigir o que é meu, o que eu posso.
Nem sei o que me pertence, vou saber se a conta bancária do meu pai me pertence?
Cortou o coração quando vi 100 reais gastos com o cachorro. Regulando. Eu faria maravilhas com 100 reais. Minha mãe faria.
Eu vivo bem. Enche o saco ficar enlouquecendo quando se precisa pegar ônibus, almoçar pra ficar a tarde na escola e não tem dinheiro. Aí pego do que é meu.
Mas eu vivo bem.
A gente sempre se vira.
Se vira com a pensão, a família é de duas pessoas e temos nossos luxos. Coisa simples, coisa que faz bem. Valeu aí, tá? A gente tá bem aqui.
Se um dia a gente foi família, sei lá cara, eu não sou apegada a seu dinheiro não. É que na hora que a coisa engasga e minha mãe diz não, eu tenho que apelar pro pai.
Porque eu nunca pensei em pedir dinheiro no farol ou me prostituir, sabe?
Desculpa o sarcasmo.
Mas enche o saco, boy. Enche muito.
Eu não quero dinheiro pra comprar bala, nem nunca fui daquelas adolescentes que fazem birra por um tênis de 500 pilas. Nunca pedi um celular novo, nunca pedi essas tecnologias, sei lá, eu só quero pagar as contas, pegar os ônibus que eu preciso, pagar os vestibulares, fazer a engrenagem funcionar pra um dia eu parar de usar o seu dinheiro.
(eu juro que não sei a quem estou me dirigindo. Não sei direito, na verdade).
No fim, fica todo mundo bem. Comida não falta, lugar pra dormir também não. Papel higiênico sempre teve e saneamento básico. A gente tem casa, por mais que queiram tirar a gente daqui. Ah é. Assim como a pensão tem prazo pra acabar, vamos sair daqui, baby. Pra onde? sei lá. Quem tá arrancando quem daqui, eu não sei direito, talvez eu vá pra uma cidade pequena idiota em que a casa do prefeito sai a preço de banana. Viu, menina? Só sucesso. Podemos sair de Itaquera e parar na puta que paril. ooooh, eu estava sendo educada até agora. Chega.
Fico nervosa demais como dinheiro é uma causa de discussão na minha vida. Logo eu que nem ligo! Não acredito nisso, é tão supérfulo.
Olha, apesar das palavras, eu to numa tranquila. Muito mesmo e, caso isso seja grosseiro, aconselho olhar com olhos de função fática.
Até eu dizer que consigo ficar sozinha nisso.
é
aí deixa eu comigo mesma.


Pra ela, ele é um desgraçado que montou uma nova família.
Pra ele, ela é uma louca desiquilibrada.
Pra mim, são meus pais que deveriam se comportar como pais.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Quem me vê de longe já sabe que você está pintado no meu rosto. De cores fortes, bonitas e encantadoras.
E dá pra ver essas cores saindo do rosto e tornando-se físicas, porque tudo aqui é real.
É o sentimento que eu toco e a textura que eu sinto.

É respiração fluindo, de quando se inspira o ar no nariz, o estômago enche de cóceguinhas.
E quando solta, são os sorrisos brotando.

Talvez minha face mais corada seja porque meu coração está batendo mais forte.
é a pulsação que o arrepio em te ver, nem que seja nos meus pensamentos, sobe e circula por todo corpo, deixando cor de amor.

Não é apenas paixão.
eu vejo pureza e inteligência num gesto singelo, como quando temos a mão um do outro quando se deita e se olha.

Falar mal do amor é fácil, difícil é não se render quando acontece.

Amor não se confunde.
Quando existe, existe.
somos livres.

e amantes.
pulsação.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Abstrato, vulgo mentira

Não pude evitar minha epifania em meio a aula em concordar com o heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro.
De linguagem simples e palavras repetidas, seu conceito é muito simples e, ao ver distante, parece que tem mais é preguiça de pensar.
As vezes eu penso que as coisas que aprendemos, as informações e os nomes decorados, são, inevitavelmente, obras do homem. Vemos físicos ficando surpresos ao descobrirem a força de atrito de um objeto numa rampa, sendo que, os números, os nomes, os conceitos, as medidas, foram todas e todas definidas pelos seres humanos. E todos eles podem estar mentindo.
Assim como hoje ouvi: Cnidários contém dimorfismo, ou seja, tem duas formas. Existem os Pólipos que são sesséis (ou seja, são fixos, ex: corais) e os Moluscos que são "vida livre" (óbvio, são livres, ex: água viva). Então chegaram a conclusão: nós, seres humanos, somos iguais por termos olhos, nariz, boca, braços, pernas, enquanto os cnidários podem ser "dois"
mas
quem garante que são a mesma espécie?
quem definiu isso? o homem!
ele pode ter mentido. e daí que tem o mesmo aparelho digestório, respiratório?
é um conceito tão abstrato. Pensando nisso, tudo nesse mundo pode se duvidar.
a gramática, a matemática, letras, números!


Alberto Caeiro diz que tudo que não são sensações, não são verdades.
O que realmente existe, é o cheiro, tato, olfato, paladar. O que podemos sentir, tocar e ver.
Lógico, em partes, não concordo como um todo. Assim como acredito em conceitos abstratos, como o amor, mas antes que pense, não como breguice, mas um amor de mãe, por exemplo.
Mas até onde conceitos que pessoas criam são verdades? Até onde números são reais, nomes são denominados corretamente, nem correto existe! A moral não existe em si. Alguém criou.



!




Querendo ou não, não aconselho a refletir sobre tal questão.
Não leva a lugar nenhum, não vai te ajudar a ganhar o prêmio Nobel e muito menos terminar a redação de português, como eu, que é o que eu deveria estar fazendo.