quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Tia Jandira

De idade, não menos que 50 nem mais que 60. Podia ser encontrada no corredor, banheiros ou encostada na parede conversando com as outras tias. Uniforme sempre azul, cabelo preso, pele amorenada. Seu rosto já tinha marcas de experiência, pequena, um tanto gorda e simpática. Aquele tipo de pessoa que a gente sempre vê, não dá muita importância mas simpatiza. Porque também tinha simpatia na Tia Jandira, acho que já a vi sorrir e sempre foi educada. Já pegou papel de secar a mão pra mim quando acabou.
Uma vez, indo pra biblioteca, a vimos de roupa cotidiana.
"Olha a Tia Jandira sem uniforme! Achou que ela acabou de chegar!"
Pessoa que a gente olha e sabe que a vida foi confinada ali. Após muitos anos, muitas coisas ou quase nada, restou ser servente de uma escola para garantir o dinheiro de cada mês. Olhar todos os dias para as promessas do futuro (ou não) que não aconteceu à ela.
Não se sabe da família, vida pessoal, do que gosta de comer e o que gosta de fazer. Sabe-se que passa uma máquina engraçada no chão, redonda e que gira, deixa o chão brilhando, que eu vim a descobrir que é uma enceradeira e que é uma peça muito antiga (me parecia moderna). Sabe-se que depois do surto da Gripe H1N1, ela sempre vinha com o álcool em gel na mão pra limpar as fechaduras, os bebedouros e os vidros, a cada intervalo.
Uma vez fechou a porta para limpar o vidro e o professor disse "tem que deixar aberta!". Foi engraçado.
Sabe-se que almoçava marmita na cozinha da escola. Sabe-se que sempre encontrava, sempre estava ali, não se sabe nada sobre a vida, mas sabe que nunca sairá dos corredores de qualquer andar que seja.
A não ser na Segunda-feira, em que fora anunciado: "Sabe a Tia Jandira? Servente que ficava aqui...ela veio sábado e domingo não precisou vir. Avisaram hoje, ela morreu."
Não se sabe a vida, não se sabe de nada, não se encontra mais em lugar algum.

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