domingo, 25 de abril de 2010

eu não quero

Eu não quero fazer da explosão o meu defeito. e é por isso que as vezes fecho meus olhos. é por isso que as vezes eu fico em silêncio. Eu não quero ser a guerra. e é por isso que as vezes eu deixo as lágrimas caírem. é por isso que caio na frenesi por implorar pelo sereno. Eu não quero ter falsas promessas. e é por isso que me arrisco em fazer os mais difíceis comprometimentos. é por isso que teimo em acreditar na verdade. Eu não quero odiar a imagem do espelho. e é por isso que passo batido pelo reflexo. é por isso que me concentro apenas nos cílios molhados. Eu não quero morrer. e é por isso que luto com quem quer me matar. é por isso que ando armada. Eu não quero dores. e é por isso que optei pelo orgulho. é por isso que eu mesmo me machuco. Eu não quero apenas falar. e é por isso que eu ouço. é por isso que escolhi tua voz pra me falar o resto da vida. Eu não quero chorar na vida. e é por isso que as vezes peço para o meu coração esfriar. é por isso que oro. Eu não quero me arrebentar. e é por isso que encolho meu rosto. é por isso que me defendo. Eu não quero os ofender. e é por isso que calo. é por isso que peço para que se calem. Eu não quero ser perfeita. e é por isso que sou gauche. é por isso que caio no pecado. Eu não quero ser uma mulher má. e é por isso que começo uma revolução da minha cama. é por isso que vou olhar pra dentro e ali me conversar.

domingo, 18 de abril de 2010

Sessão na psicóloga

Ela viu na televisão uma boy band. Uma boy band que ela gostara quando tinha por volta de 8, 9 anos. E então ela se sentiu com tal idade novamente, mal foi preciso fechar os olhos para imaginar. De olhos fechados, pode ver o cd da banda em sua mão, enquanto dançava no quarto de sua avó. Ali morava apenas a avó e o pai. De repente viu a imagem do pai saindo do portão de casa, com uma mala na mão. Acordou num suspiro forte. Estava na sala de espera e então a psicóloga a chamou. Foi só a mesma perguntar a ela "como você está?" e então a menina começou a chorar e disse "meus pais se separaram!".
- Mas já faz muito tempo, achei que você tinha superado isso, veja bem...
- Como muito tempo? eu aposto que minha mãe tem um namorado! e meu pai anda com uma mulher que minha mãe diz ser a namorada dele!
- Sua mãe está namorando? seu pai arranjou outra mulher? o quê?
- as vezes eu me tranco no quarto e ligo o video game bem alto pra minha mãe não escutar meus choros...
- Querida, você está bem? quantos anos você tem?
- Oito.
- Dezoito!
- O quê?
A cabeça da menina começava a doer. Aquele sentimento de criança, tomado ali na sala de espera, foi somando com cenas que apareciam em sua cabeça. Eram lembranças muito dolorosas e sua cabeça parecia estar sendo apertada com força. Se viu no hospital, viu seus pais gritando, se viu cortando os pulsos e dormindo uma tarde inteira. Sentiu um beijo pela primeira vez. Sentiu a dor de paixonite que mal se sentia com a dor intensa na cabeça.
E tudo se somava. A inocência da criança era vencida pelos acontecimentos em sua cabeça. Ela se sentia responsável pela maioria das coisas que aconteciam nas lembranças. Sentiu vontade de gritar mas não gritou.
- Querida!
Seus olhos eram abertos e intactos. A dor na cabeça não a deixava mover sequer um músculo.
Dera um berro na sala da psicóloga e aos pés dela perguntou:
- Quem sou eu?
- O que tua dor disse?
- Sou uma criança cheia de estragos. Tive inocência misturada com a responsabilidade. Me obrigaram a ser madura.
- Não é mais uma criança.
A dor passou. Voltava a si.
- O que sou?
- É tudo que disse. Mas não é criança.
- O que eu faço?
- Vive.

segunda-feira, 5 de abril de 2010