quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Isso é uma carta de amor para B

Escrevi tanto aqui.
Apaguei, salvei no bloco de notas. Porque não faz sentido fazer o drama aqui e me punir mais tarde da mesma forma.





Mas que fiquem salvas as palavras.







me mate só por hoje e me acorde quando puder me beijar de verdade.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

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"[...]porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? enquanto eu imaginar que "deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o modo de me acusar. eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de deus. eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. porque enquanto eu amar a um deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. enquanto eu inventar deus, ele não existe."




Clarice Lispector pelos dígitos de Bruno Ferreira.
fechando a noite.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ode a ausência do tempo

Me dê meus tempos de criança e adolescência, qualquer tempo onde o tempo sobrava e dançávamos sobre ele.
Onde eu não precisasse correr e os passos lentos de observação me guiavam. Aonde eu não me irritava quando queimava tempos dentro do transporte público. Horários que me permitiam tomar café-da-tarde na frente da televisão e depois fazer uma lição de português da escola.

Eu choro muito doído por esse tempo. Tento odiar o tempo mas o que me consome não é o próprio, mas a ausência dele. Choro me sentindo culpada de gastar o tempo chorando. Vejo que crescemos e trabalhamos e pagamos, pagamos pelo tempo consumido, para sobreviver e no fim do mês vimos tarefas, dinheiro mas não vimos o mar, não vimos uma pomba lutando por pão, não ouvimos um velhinho contar uma história (de quando se tinha tempo).
Ignoramos, vivendo para consumir o tempo, ignorando o homem que dorme na rua, ignorando o deputado que te rouba, ignorando os juros, porque não temos tempo, não temos tempo de se preocupar com os outros, com as injustiças, com o caos.
Existimos.
Não comemos aquele bolo de chocolate inteiro porque não podemos engordar, porque não temos tempo para fazer exercícios, para andar de bicicleta, quiçá ir no cubículo do banheiro e bulimizar.
Não vemos mais as vacas, as galinhas, fica mais fácil mata-las, congela-las e fazer uma comida rápida, porque não temos mais tempo de aquecer um macarrão, de temperar uma salada.

Choro pela ausência do tempo que me tira a vida, me tira a respiração. Ausência do tempo que nos impede de amar, nos impede de nos relacionar, de querer, almejar e depois tocar;
nos impede os orgasmos múltiplos, nos impede de suar um fervor de paixão, nos impede...

Me dê lentidão.

"Temos nosso próprio tempo"
não tenho, não me pertence e eu não o domino. preciso comer, preciso dormir, preciso ascender na vida, tenho que abrir mão do tempo...

"somos tão jovens"
um jovem que precisa correr, precisa falar, aprender, ser culto, bonito, me dê um creme para o rosto, me deixe bonito, rápido, comendo o tempo porque o resto engorda.


Perdendo tempo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Se em 5 minutos...

você tivesse que escrever sobre você para um desconhecido, o que escreveria?

Penso em me descrever. Me vem defeitos na cabeça. Gosto de rir. E quando as pessoas riem de alguma brincadeira minha. Mas também gosto de ser levada a sério: não sei de muita coisa mas, quando aprendo, gosto de compartilhar. Converso. Sorrio. Sou gentil. Sou crítica e nem sempre isso é bom. Tenho trabalhado a minha paciência e, principalmente, minha concentração: talvez eu esteja me comprometendo dizendo isso. Mas sou sensível. Com os sentimentos, com as coisas: observo detalhes, transcendo ideias. Reparo. Minha memória é ótima, modéstia parte. Sou capaz de perdoar, mesmo orgulhosa. Faço o bem, por altruísmo e por prazer. Curiosa.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

resenha: scar tissue

água: busca incessante pelo prazer.

eu gostaria,
eu pretendo,
eu usaria,
eu vislumbro,
eu pensei que,
eu desejo,
eu QUERO.

(in)satisfação.

Quando domino meu ego
insatisfaço. insatisFAÇO.
faço alguém feliz. perdoo. dou um sorriso.

igual à
caridade.
sem penas
sem dó
com amor.


vivendo e aprendendo
morrendo, suicidando e voltando a viver.
controlando, respirando, monitorando, responsabilizando...

...e vivendo.

na camada do ozônio.
injeta aqui,
que já me sinto como uma esfera que cobre o planeta-terra.


você é meu Buster.
nunca me viu daquele jeito.
meu cintilante olho saudável te agradece.

Acontece...
obrigada,
por acontecer.


Ficaram marcas
mas tirar casquinha de cicatriz é divertido.
vamos rir!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sementalidade

Digitei "antidepressivo" no google para lembrar o nome de um e me apareceu um link com:

"Sêmen tem propriedade antidepressiva"

que prozac o quê!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Peixes Estranhos

O Peixe olhou a isca e disse:
- Quero aquela minhoca!

O outro retrucou:
- Você está louco? Minhocas não são boas...sem contar que elas ajudam a terra, ou seja, elas são suicidas vindo aqui. Deixe que ela repense sobre seu suicídio, e depois voltem para terra. é o lugar delas! Não coma a minhoca, Estranho.

O Peixe achou engraçado a ingenuidade do outro e começou a dissertar:
- Esqueci que machucar a si mesmo, machuca os outros. porém, me perdi nesta selva de emoções e quando vi havia uma marca roxa no braço e não dava pra voltar atrás. Num estacionamento eu perdi a razão e fiz em dois minutos a quimioterapia de um câncer de dez anos. Hoje, eu penso na possibilidade de perdão libertador de almas.

Esqueci mesmo. Preciso de ajuda mas não quero ajuda. não quero que eles pensem que eu estou ficando louco e preciso ser amparado. não quero tratamento especial. eu poderia simplesmente ir a um daqueles médicos e pedir um Prozac. Eu tomaria, ficaria chapado e feliz, todos me achariam agradável. mas não seria eu. sempre me perguntei: "és uma pessoa ou um remédio?".
esqueci. esqueci que morder aquela minhoca é puxar todos para a beira d'água. todos perdem o oxigênio e vão perdendo a vida...então, eles se afastariam porque tenho uma energia negra pairando minha mente e não tenho limites. chorar dói. lembra das dores de meu corpo.

Tenho um arranhado no rosto, ao lado do meu olho direito. Fui eu que fiz isso. viu? sou maluco. eu tento me curar todos os dias. choro, ouço música clássica, faço meditação e me espelho nas pessoas serenas. Mas ai eles me cutucam e o pior acontece, daí eu acabo com a alegria de todo mundo. sou pouco inteligente quando o pior acontece. Eles dizem "eu to querendo te ajudar" mas é difícil ouvir. queria ser normal para não precisar de ajuda.
Apelo pro Prozac? Mordo a minhoca?

O outro espantado diz:
- Porque está dizendo sobre pessoas e tudo isso? o quê é isso?

O Peixe diz:
- É! Quer saber, amigo: a minhoca não é suicida. A intenção é que você a morda e se mate. Somos Peixes sensíveis, criativos mas muito vulneráveis aos cativos. Mordemos qualquer coisa...
é.
que pessoas o quê! Somos Peixes.

glub, glub...

terça-feira, 20 de julho de 2010

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...

... ,
..
......

(eu divaguei sobre tantas coisas pra dizer)
........................

...

..
(no travesseiro, na epifania debaixo no chuveiro, quando me encolhi chorando no chão da sala)

... , :

, -

(quando gritei num sussurro da noite. na dor mais doída)
... ... , ..

(e agora é essa nebulosa sem cor, como um sentimento que vaga acima de nossas cabeças. sabemos que está lá mas sequer damos atenção. e com o tempo, com as coisas, esquecemos...a nebulosa se dissolve e sabemos que pequenas partículas do que um dia foi vapor estão espalhadas)

... .... ..., ...

(fica a memória. a lembrança. a história)

.

(talvez daqui muitos anos você só se lembre do último insulto que te chamei. e eu só lembre da última batida no telefone sem um adeus.
ou iremos crescer e saber conversar?

não me importa se não me ouviu. eu disse.
e agora posso voar sem sentir aquele peso

quem sabe nesse vôo eu não encontre um pedaço da partícula daquele sentimento.
feche os olhos
me venha lembranças)

... ... ... ... ,

..
.......

(posso ser mais jovem, mas aprendi que orgulho não mata. mas nos faz perder coisas, pessoas e a nós mesmos.

Todos precisam de amor. nunca haverá espaço pequeno para este sentimento. mas acho que não havia espaço. ficou muito estreito. muito preenchido por este tal de orgulho...

fica assim,
até que haja outra exclamação)

... ,




!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

dança na vida

Desliga o som, faz silêncio e abaixa a luz. Ela está vindo. A sua imposição vem dos olhos cor de mel e as tranças longas castanho-claro encantam um senhor que passava a rua. Sua pele não é morena mas não é branca, é cor de contraste perfeito com aqueles olhos, aquelas tranças, de tal sutileza que não tem nem importância se não tem protuberância nos seios ou mais um pouco atrás. Olha por cima e não diz uma palavra, as pessoas engolem seco e abaixam a cabeça para os absurdos. Na sala à meia luz que nós apagamos começa o som de um samba maluco que anuncia que a água vai desabar. Então ela dança, rodopia e se mexe nas esquerdas, nas direitas, as frentes. Mexe o quadril, rebola com despretensão, ergue o vestido e sacode as ancas. Todos desacreditam nos movimentos ensandecidos dela, se escondem sob panos vazados, não deixando que todo seu falso moralismo se esconda numa mentirosa vergonha alheia. Eles tinham vergonha dos movimentos atrevidos mas, se caso perguntassem porque ela fazia aquilo, de rápido encontro no ouvido ela ria gostoso "vai desabar água e é pro nosso bem". O bem que ninguém ouvia, debaixo dos panos que mais eram rendas safadas: não escondiam vergonha alguma, apenas mostravam que a louca não era ela, eram ridicularmente eles, tão medrosos de se enfiar debaixo da água que vai limpar. Ela não tinha medo de nada não, gozava da vida e debochava da morte. O que lhe era proibido, lhe dava um pedaço de prazer mas não o prazer todo. Rezava preces à Deus, plantava e colhia o que a terra permitia, beijava seu homem na testa e bem-dizia sobre todos. Tomava da sua cerveja gelada e balançava seu caldeirão de doce-de-leite ao fogo a lenha, isso quando não mandava seu homem fazer. Ô seu homem que sempre esteve ao lado, ela sabia e abusava, risonha e agradecida. Cometeu os erros do passado e agora procurava o abraço dos cinco filhos. Enchia de açúcar onde não podia, sabia do erro mas queria a satisfação. Mas afinal, quem disse que era erro? quem foi que disse que pra morrer, tem que ser velho? quem foi que disse que pra viver, tem que ser muito? talvez ela seja mais que uma só. e, não estando mais aqui para acalentar seu sorriso e dar o sublime passo de sua dança que anuncia a chuva, fica a mostra que pra ser feliz ela se permite viver. Vive mesmo, mulher! vai ser gauche na vida, balança os cabelos e joga os beijos!

o dia nove de julho esteve aí e não teve mais idade para marcar. dança com os anjos, que quando o sol raiou no nove eu sorri pra sua canção, Catarina.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

não falem mal do amor

Não cometam este pecado. Pecado, quando digo, não está agregado a visões cristãs ou de morais burguesas no sistema em que nos colocaram. Não cometam este pecado contigo mesmo, com seus sentimentos. O amor está elevado a tal plano transcendente que não cabe a você ir até o mesmo e lhe difamar as tuas injúrias.
A culpa não é dele. É sua.
Não confudam amor com os relacionamentos mal-resolvidos. Se ali houve o amor, que lá deixe permanecer, nas folhas de papel que amarelam com o tempo, nas fotos que perdem cor, no histórico da lembrança, no tato da memória. Deixem o amor lá...
Não o traga a tona agora, não diga que ele veio em hora errada. Não o culpe pelos desentendimentos. Culpe o que foi feito de errado e não o amor.
Não! Amor tens a tua mãe, ou a teu pai, avôs, família. Não estrague o sentimento que leva a título "amor" com comparações. É em nome desse pulsar que alguns de nós estamos vivos hoje. Alguém nos amou e nos deu a mão. Um bombeiro tem amor, não amor a pessoa que salva mas pela vida. Não pela vida da pessoa, mas o que representa vida e o que não pode desperdiça-la. E vocês ainda cospem no amor...
Afinal, não deem nomes ao amor. Ele não é paixão, não é carinho, não é carência, não é cativo, não pressiona, não te obriga a tornar-te responsável, não é temporário, não é definitivo mas é sempre eterno...Fica nos olhos. Na alma. Nas marcas. Memória.

E mesmo que nenhuma pessoa tenha lhe dado a mão, e nunca você ter estendido a ninguém, se vives num casulo tão apertado e pequeno, e gosta de vibrar dizendo que é tão auto-suficiente que não precisa de amor:

se ainda não pegou a navalha e cerrou teus pulsos é porque deves amor a ti mesmo.
de uma, duas, vertentes e paradoxos: nos faz vivo.
porque esse não devia ter nome. devia ser sentido, elevado, respirado, transpirado, cocegueado o íntimo, dedilhado os poros. talvez, assim, se sentisse melhor e não diria tantas coisas deste...estado de espírito. Desse arrepio, dessa voz que contamina e irradia luz no quarto.

que amo,
o anti-nomeado.
(amor!)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

a menina me olhava

Ela olhava com timidez a fita que fazia na minha blusa, na altura no meu colo. As vezes corria os olhos para os meus e logo os tirava. Distraia. Me olhava através de um óculos de armação tom magenta, ou qualquer outra nuance de rosa. Eu fingia que não reparava nos olhos dela em mim. Ela também olhou minha mochila grande, atrapalhada e cinza sem-graça. Mas olhava para a fita. Tinha uma sujeira na bochecha, como se fosse de doce. Eu fui pequena por tanto tempo, miúda, protegida. Observava à todos e detalhes não me faltavam. Ali eu me perguntava, que grande coisa te atrai o olhar, menina?
Me fitava. E não era séria, nem sorrindo, era de observação. Como se estivesse analisando e esmiuçando os detalhes de cada florzinha da minha blusa. Talvez ela estivesse pirando nos desenhos e fazendo um conto na estampa da minha roupa. Eu olhei os cabelos lisos castanhos que enrolavam nas pontinhas. Vi seu jeito singelo e independente de amarrar o tênis.
Não sabia quem era espetáculo e quem era espectador. O interesse partiu da menina de me olhar e ali procurar alguma referência, alguma história, perder-se os olhos em algo nunca antes visto ou rotineiramente visto, você olha para todos, menina?
Levantei e ela olhou minha meia que percorria minha perna. Parou estática e pregou os olhos sem nem piscar, e na minha altura eu já não sabia o que era surpreendente para mim e o que era para ela. Olhava. De repente, fitou meus olhos e então eu mudei a expressão do meu rosto para ela. Ela não reagiu e continuou a me olhar.
A perdi. Em meio a aglomeração das escadas do metrô, um braço rela no meu e era ela, sem nem perceber que havia me tocado e sem saber direito por onde estava andando, tortinha e desorientada. Foi quando senti aquele toque. Ela tomou uma mão e foi adiante. Então certifiquei que a menina era de um tamanho que batia dois palmos abaixo do meu ombro.

domingo, 6 de junho de 2010

Suicídio

Vivo do egoísmo e prezo por mim o centro do universo. Não sou humilde. Invejo os humildes. Quando penso que estou pensando em nós como um todo, estou pensando em mim com todos, em somente eu, com grande ênfase. Grito. Argumento absurdos. Uso palavras para ofender, machucar. Palavras são minhas armas - não atingem à todos - mas são. Faço algumas promessas e alguns dizem que são falsas. Eu não sei e talvez esse seja meu maior defeito: não saber. Faço sem pensar mas não uso mais "impulso" no meu vocabulário. Ajo com a emoção. Sou energicamente raivosa e capaz de destruir tudo que construi com o mais silencioso primor de um equilíbrio racional. Construo e destruo. A mesma força que uso para agradar, uso para causar o amargamento. Exagero. Choro. Tenho vontade de usar minhas mãos para agredir mas hesito.

Vou matar. Dar morte. Privar da vida. Extinguir. Fazer murchar, secar. Farei tudo isso a essa pessoa que foi construída sob mim. Eu nem tinha visto e, quando notei, já estava sendo tal persona. Contrário de ter orgulho de assassinar-me e me expor em praça pública, me enterrarei no mais profundo sete palmos do "Existiu" para nunca mais sair. E odiar com força tudo que sofri por viver dentro de um corpo que não suportei. Cansaço de chorar de arrependimento por algo que disse há dois minutos.
Insuportável respirar aprisionada numa personalidade que não me pertence. Que não entendem e não conseguem entender. Que atribuem meus erros a ausência de emoção paterna.
Que seja,
estou matando.

vou voar em campos serenos
ser humilde em vestes brancas.
e só irei chorar da emoção do sublime respirar da vida. sorrirei para os que tentei doer com palavras.

mo
r
te

à

...

terça-feira, 1 de junho de 2010

sensível

Se eu deitar meu corpo estendido e nu sob a superfície horizontal de minha cama, posso sentir da janela a brisa entrando e fazendo uma incômoda cócega nas minhas costas, brisa gélida que faz o corpo arrepiar, sentir frio. Ainda assim, se pegar o mais confortável cobertor para me esquentar e ali fazendo movimentos para acelerar o calor, após isso o cobertor faria a sua função passiva de apenas pousar sobre minha pele e ali abafar os 36 graus do meu corpo.
E se eu comer do doce mais saboroso, suculento e com leve toque azedo para aguçar, ali só se passa os pedaços pelos meus dentes e se despede para minha glote. à grosso modo, absorve nutrientes para o que restou virar merda. Não há vestígios agradáveis, nem sequer um brilho para olhar, a não ser que o papel do doce seja muito bonito.
Ainda que eu usar o mais ensandecido lisérgico e fizer uma viagem paranormal para um mundo de cores estouradas, sons progressivos e ecos de elfos, eu sei inconscientemente que em alguma hora as minhas asas irão quebrar e que me espatifarei no chão. Seguido, terei convulsões e, por que não?, aquele doce pode voltar pela minha boca novamente...E questionar, e chorar e voltar ao mundo não-ácido.

Se conheço a sua mão quente para esparramar sob meu corpo e brincar em qualquer canto que até eu mesma desconheça, posso deixar a janela aberta porque sei que podes me abraçar quando as primeiras bolinhas de arrepio aparecerem. E o confortável cobertor pode nos envolver e nos deixar mais perto, ou pode ser dispensável já que nossos 72 graus são suficientes para não haver incômodo.
O doce eu posso deixar para mais tarde, se aqui dentro da minha boca eu posso colocar a sua língua. Se posso te apalpar enquanto o sinto e após o ato, posso olhar as cores, as luzes e os raios que incendeiam os seus olhos. Posso fazer um sorriso nascer no canto da minha boca, irradiando uma gargalhada da sua. E sonhar com o encanto que são os sons, os tons e os cheiros que você faz.
Ah. Se na sensibilidade do seu toque ou o que é nós dois horizontalmente encaixados, posso me elevar a um plano transcendental onde todas as cores se misturam e o branco se faz. Pureza branca, tranquila, serena...As vezes ouço anjos mas tudo me parece no mais breve silêncio, quebrado apenas quando seu sussurro umidece meu ouvido. Vejo luzes e sei que minhas asas não podem se quebrar, porque tu me abraças e nos seus olhos fechados apertados não vejo a pretensão de me soltar. Voamos. Enrolados, rindo.

Porque o que é um abraço num tronco ocre de uma árvore centenária, senão o abraço no teu peito que me compensa com um ritmo, uma batida, um compasso. Abraço e sinto batidas no peito que se aceleram. O ponto emocional do seu cérebro é excitado e as batidas podem fazer música com as minhas.
Uma música que fazemos desde o dia em que me levantaste no meio da rua, debaixo da chuva e assim com um beijo selou parceria.

Música que é trilha sonora...



...do nosso longa-metragem sem fim.

domingo, 30 de maio de 2010

sê perdão

espelho, espelho meu: o que faz me ter dando medo de um reflexo que é meu? inacreditável é acreditar que um anti-cristo esteja dentro de mim. inacreditável é ver que o meu pedestal é feito de lixo. o meu olhar pedante e minhas palavras desmoralizantes só garantem o asco.
quando foi mesmo que cresci? quando foi mesmo que vim parar aqui?
e por quê, nessa luta incessante do Bom, do Humilde, eu não luto em mim mas me comparo a eles? a elas? e se me remexe o suor de desespero num travesseiro, é porque eu não fui como eles. elas. pra quem eu estou mudando mesmo?
se no espelho o lábio pálido me assusta, envelheço por dentro. antes eu temia ao vulgar e hoje temo ao medíocre, o profano.
Que batalha mais perdida.
Que medo de exposição. que medo de engolir um orgulho...

fecho os olhos
e quando os abro
torço pra ainda te ver na minha frente
e pra não ter me virado as costas.

brigas comigo
mas não me deixes,
tu.

que batalha mais perdida...
sou eu
comigo mesmo.
que ser mais difícil de se conviver
do que eu
comigo mesmo.
que dor tão grande é o reflexo
meu
o meu mesmo.

onde ficaram os espelhos foscos? que escondem a escuridão dos olhos.
não nos permitem ver chorar
que não nos apresentaram Narciso de orgulho.

que dor é viver
aqui dentro.

não ter nascido como eles. a dor da vida não foi suficiente para tornar-me boa?

segue tentando...
e quando pode
se desculpa.
porque ainda não sou Eros. sou Narciso.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

o homem na sala

Tem um homem na sala. Eu não o conheço. Já ouvi falar mas não conheço. Pensando bem, não sei o nome dele. Eu acho que tem três filhos. Ou dois?
Eu o imagino de um jeito mas sei que ele não é assim. Então tento imaginar do jeito que me descreveram nas não sei, não consigo. eu podia descer as escadas e ver. mas eu não faço. que mal tem? se ela está feliz. eu já os ouvi rir umas duas vezes. ou mais. é bom que ele a faça rir. é bom que me faça também...daí não fico tensa. mas eu simplesmente não desço. foram 10 anos. e não lembro de homens na sala. não trazidos por ela. antes eu estava ocupada. agora simplesmente não faço nada e também não desço. se eu descer, eu verei. se eu ver, eu falo.
Ele deve ter fumado lá fora. subiu um cheiro. ela foi tomar banho, ele deve ter passado o tempo com o cigarro. eu fiquei aqui. será que o cheiro impregnou? ela não deve gostar. não sei. sentimento de mãe. de zelo. a gente sempre cuidou uma da outra. isso nunca aconteceu. aconteceu uma vez mas eu já conhecia o rosto, o nome e o histórico. eu preciso ver, não seria educado da minha parte não ver. eu nem não quero ver. eu quero mas não desço. fico presa.
Tem um homem na minha sala...
eu deveria olhar.
dizer oi.
dar um sorriso.
mas e se eles derem as mãos? eu vou ter que olhar pra lá? será que eles já são um do outro? eu cresci. eu tenho 18 anos. tô como criança que precisa pegar na mão. "Bárbara esse é o..."

já aconteceu antes. há 10 anos. mas era uma mulher na sala de jantar da casa dela. no portão, na verdade. ele me apresentou. tive ciúmes. não lembrava minha mãe. eu nem queria que fosse. mas é alguém entrando na vida de outra. e assim, sucessivamente.
tem um homem lá. será que ele entra na nossa vida? quer dizer, na vida dela. na minha mais ou menos. ele vai passar o natal com a gente?
eita.
ah. tem um homem.

deixa eu ver...
mãe, pega na minha mão?

domingo, 25 de abril de 2010

eu não quero

Eu não quero fazer da explosão o meu defeito. e é por isso que as vezes fecho meus olhos. é por isso que as vezes eu fico em silêncio. Eu não quero ser a guerra. e é por isso que as vezes eu deixo as lágrimas caírem. é por isso que caio na frenesi por implorar pelo sereno. Eu não quero ter falsas promessas. e é por isso que me arrisco em fazer os mais difíceis comprometimentos. é por isso que teimo em acreditar na verdade. Eu não quero odiar a imagem do espelho. e é por isso que passo batido pelo reflexo. é por isso que me concentro apenas nos cílios molhados. Eu não quero morrer. e é por isso que luto com quem quer me matar. é por isso que ando armada. Eu não quero dores. e é por isso que optei pelo orgulho. é por isso que eu mesmo me machuco. Eu não quero apenas falar. e é por isso que eu ouço. é por isso que escolhi tua voz pra me falar o resto da vida. Eu não quero chorar na vida. e é por isso que as vezes peço para o meu coração esfriar. é por isso que oro. Eu não quero me arrebentar. e é por isso que encolho meu rosto. é por isso que me defendo. Eu não quero os ofender. e é por isso que calo. é por isso que peço para que se calem. Eu não quero ser perfeita. e é por isso que sou gauche. é por isso que caio no pecado. Eu não quero ser uma mulher má. e é por isso que começo uma revolução da minha cama. é por isso que vou olhar pra dentro e ali me conversar.

domingo, 18 de abril de 2010

Sessão na psicóloga

Ela viu na televisão uma boy band. Uma boy band que ela gostara quando tinha por volta de 8, 9 anos. E então ela se sentiu com tal idade novamente, mal foi preciso fechar os olhos para imaginar. De olhos fechados, pode ver o cd da banda em sua mão, enquanto dançava no quarto de sua avó. Ali morava apenas a avó e o pai. De repente viu a imagem do pai saindo do portão de casa, com uma mala na mão. Acordou num suspiro forte. Estava na sala de espera e então a psicóloga a chamou. Foi só a mesma perguntar a ela "como você está?" e então a menina começou a chorar e disse "meus pais se separaram!".
- Mas já faz muito tempo, achei que você tinha superado isso, veja bem...
- Como muito tempo? eu aposto que minha mãe tem um namorado! e meu pai anda com uma mulher que minha mãe diz ser a namorada dele!
- Sua mãe está namorando? seu pai arranjou outra mulher? o quê?
- as vezes eu me tranco no quarto e ligo o video game bem alto pra minha mãe não escutar meus choros...
- Querida, você está bem? quantos anos você tem?
- Oito.
- Dezoito!
- O quê?
A cabeça da menina começava a doer. Aquele sentimento de criança, tomado ali na sala de espera, foi somando com cenas que apareciam em sua cabeça. Eram lembranças muito dolorosas e sua cabeça parecia estar sendo apertada com força. Se viu no hospital, viu seus pais gritando, se viu cortando os pulsos e dormindo uma tarde inteira. Sentiu um beijo pela primeira vez. Sentiu a dor de paixonite que mal se sentia com a dor intensa na cabeça.
E tudo se somava. A inocência da criança era vencida pelos acontecimentos em sua cabeça. Ela se sentia responsável pela maioria das coisas que aconteciam nas lembranças. Sentiu vontade de gritar mas não gritou.
- Querida!
Seus olhos eram abertos e intactos. A dor na cabeça não a deixava mover sequer um músculo.
Dera um berro na sala da psicóloga e aos pés dela perguntou:
- Quem sou eu?
- O que tua dor disse?
- Sou uma criança cheia de estragos. Tive inocência misturada com a responsabilidade. Me obrigaram a ser madura.
- Não é mais uma criança.
A dor passou. Voltava a si.
- O que sou?
- É tudo que disse. Mas não é criança.
- O que eu faço?
- Vive.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

Eles não acreditam mais em mim

A dor é uma úlcera, o descontrole um câncer. A dor de ter se tornado alguém que leva as pessoas ao nojo. A dor de perceber que faz mal aos outros. A dor de ver que tudo que se tentou ser, aconteceu ao contrário.
Há desconfiança nas pessoas que tem facilidade de machucar. O seu imprevisível é totalmente previsível para eles. Todos esperam a pior coisa de você.
A cura está perdida. Só resta clamar a Deus. Só resta chorar até que a dor amenize. Só resta fazer força para as coisas não repetirem. Sempre repetem...ela está doente. E quando não se repete, eles acham que está se repetindo. Porque ela está doente.
Descontrolada.
Bem descontrolada.
Medo.
Aflição.


Eles não acreditam.

terça-feira, 23 de março de 2010

pequeníssima utopia

- É o pai! Já chegou na USP? Tá trânsito? Vai chegar atrasada, né? Que horas é sua primeira aula? É do quê? Vai virar petista assim, hem! Como tá sua irmã? Ah, tô com uma sinuzite...É. Tá bom. Liga pro pai, viu? Tchau.

sábado, 20 de março de 2010

Dizer de novo:

- http://bahblabla.blogspot.com/2008/09/o-vazio-o-oco-o-nada.html -

Só que dessa vez, para outras pessoas.
Façam bom uso!

terça-feira, 9 de março de 2010

"A imprensa existe para satisfazer os aflitos e afligir os satisfeitos."

quinta-feira, 4 de março de 2010

metáfora

Um dia desconheci o mundo, era a época em que eu estava dentro do casulo. Ou da bolha. A bolha que eu interagia com quem estava dentro e tudo fora era muito embaçado, torpe e paranóico.
Outro dia eu quis agarrar o mundo com as mãos, com os braços, com as pernas, os pés e também quis abocanha-lo como se eu pudesse ingerir tudo que acontecesse, absorver tudo, acreditar em tudo, como em um rito antropofágico - onde uma guerreira, eu, comeria todos para absorver seu espírito, seus potenciais.
Acho que absorvi, absorvi tanto que fiquei fraca. Comi, comi, comi e fiquei com dor de estômago. Não tinha nada, não ingeri nada, era tudo tão vazio, fraco. Quando tinha algo, eu vomitava. Fiz greve. Mas comi em pequenas doses, as vezes eu só cheirava mas não comia. Muitas coisas ficaram só no nariz.
Mais outro dia eu nem estava cheirando, nem comendo, nem pegando, estava olhando e, de repente, o olhar penetrou a alma sem que eu sequer tocasse direito. Não foi invasivo, foi delicioso...
Então o mundo ficou parcial. Meio a meio.
Hoje em dia eu o pego na ponta dos dedos, cuidadosa como se pegasse em um cristal. Não que tudo seja digno de cuidados mas antes o cuidado e depois as atitudes que devem ser tomadas. As vezes eu aperto demais os dedos e o cristal se rompe, quebra bem na minha mão, espatifa em estilhaços e, muitas vezes, penetra minha pele fazendo sangrar. No entanto, nem sempre é de propósito o aperto forte, é tão sem sentido, quando vejo já está tudo ferido.
Quem sabe amanhã eu não aprenda a colocar na palma da mão, observar cautelosa e então viver.

É. Quem sabe...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Língua pode ser definida um código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem.

Dominar o código é importante, mas não devemos nos esquecer que o sentido do que se diz ou escreve será definido pelo outro, nosso interlocutor/leitor, que não é uma figura passiva, que está ali apenas esperando o que temos a dizer.

Ele tem seus próprios valores, pensamentos, etc. e, portanto, compreenderá o que dissermos de acordo com seus critérios.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Fechando fachada

Olhou para os anéis prateados na barraquinha do metrô e os achou feios. Pareciam ser de latão, deviam pintar o dedo de verde com o tempo e, sei lá, o que iam pensar dela? Melhor procurar em outro lugar. Foi a loja de bijouterias do shopping e lá encontrou várias opções de anéis prateados. Escolheu um bem simples, que tivesse pedrinha, porque essa era a identificação da mulher (como se já não fosse óbvio, tratando-se da heterossexualidade). Não era uma joia mas dava pra enganar, pelo menos por um tempo. Colocou sua calça vermelha, a camiseta branca e o anel prateado no dedo específico da mão direita. Foi para a faculdade.
Sua fachada estava pronta. Ela é comprometida, veja no dedo. Vai entrar na faculdade com mais respeito. Aliás, que outro jeito ela poderia fazer pra disfarçar seu jeito desengonçado? Derrubava coisas no chão, trombava facilmente, gaguejava e...bom, pelo menos ela tinha um "namorado" e ninguém poderia julga-la de nada. Não diria nada, iria esperar alguém perguntar e inventaria uma história de amor, uma data e...melhor não, ninguém quer saber tantos detalhes. Diria apenas "sim, eu namoro". Dependendo do nível de amizade, inventaria uma história, contaria intimidade mas...ué, se criasse uma intimidade, não poderia manter essa mentirinha e ah! quem garante que teria uma amizade? Mas...são quatro anos de curso, impossível. Já estava sentada na sala, com o anel no dedo, não tinha como fugir. Ela daria um jeito.
No primeiro dia, foi só festa. Levaram os alunos para os bares e, de repente, ela se deparou com muita gente bebendo, se divertindo, tropeçando, até dançando! Ela ria, desnorteada e desengonçada, o quê foi mesmo que deram pra ela beber..."minha mãe vai me matar...". Era um barulho, era incessante, ela tentava se concentrar e olhava para seu dedo onde a "aliança" reluzia. Ria muito, ria muito olhando para o brilho do anel, quando um cara, bêbado cambaleando, trombou com ela e disse "gostei da sua calça!". Ela olhou para sua calça, sua calça vermelha...levantou a cabeça sorrindo e enxergou o rapaz, que usava calça vermelha e camiseta regata preta. Achou engraçado, riu mas ainda estava concentrada na necessidade daquele anel prateado. Olhou de novo para o cara que sumia na multidão e viu a tatuagem no seu braço "like a rolling stones".
Ficaria com o anel até alguém perguntar. Todo mundo usa uma fachada, todo mundo finge alguma coisa, todo mundo cheira pó e diz gostar de açúcar. Ela andaria desengonçada com um anel brilhante no dedo, diria que era desengoçada porque vivia bêbada. Teria uma nova versão, a partir dali.
Andou na rua cantarolando "she's only 18, don't like the rolling stones..."


(isso é FICÇÃO)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Fórum

Lá é triste. Cinza, bege, tons do que um dia foi branco e acabou ficando amarelado com o tempo. Amarelado nos rostos, nas paredes, um pouco no chão.
As pessoas são tristes e parecem que vagam sobre os corredores em câmera lenta. Existem ruídos de falatórios, um mínimo de risada. Sorrisos são quase inexistentes.
Sorrisos partem dos rostos de alguns advogados aprovados pela OAB. "Essa causa já está ganha". Esses cinco mil, que seu cliente sofrido que tenta vencer um processo com suas economias, também. A sala de audiência contém uma mesa extensa, advogados, a família e um juiz que se dirige estupidamente a uma criança de 10 anos. As famílias decidem ali a pensão, os pais se esquivam, as mães apertam as mãos dos advogados para conseguirem um dinheiro para o leite da criança...
As crianças ainda não entendem nada. Só acham o lugar horrível.
Tantos papeis, arquivos, pastas, prateleiras. E se você olhar feio para um dos funcionários, são capazes de colocar sua ficha no último lugar de uma pilha de processos.
Pobres funcionários públicos. Enchem dinheiro dos cofres públicos pagando concursos, conquistam um trabalho com salário garantido pra sempre e descobrem, depois de anos, que estão numa prisão, num sistema, na mediocridade. Assim, não se reprimem em tratar mal alguém, apesar do "alguém" pagar, indiretamente, o salário dele.
O funcionário do banco usa aliança dourada no dedo esquerdo, camisa por dentro da calça e cinto marrom. Fala de cabeça baixa e tem habilidade no teclado. Suporta aquilo porque deseja fazer a mulher e as crianças felizes. Ele precisa daquilo, não tem jeito. Mais de 40 anos é difícil alguma coisa nesse país...onde guardei aquele papel mesmo?
Funcionários, pessoas, alguns advogados andam de cabeça baixa pela causa perdida, o desespero de tentar uma salvação judiciária.
O operador da fotocópia é jovem e parece não saber o que acontece ali. Seu rosto é neutro. Por um pouco de terno e gravata, o mesmo se confundiria com os advogados sorridentes.
Vendo de longe, o prédio se confunde com uma penitenciária. De novo, o cinza. Grades. Gente triste...

Dá pra trombar com algumas crianças rindo do lado de fora.
rindo porque estão do lado de fora
rindo porque são crianças.

-

Poder Judiciário
Fórum Regional de Itaquera.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Chuva

Não sei falar sem muito escrever
ficam linhas, palavras pequenas, soluços na garganta, lágrimas nos olhos.

nasceu há um pouco mais de um ano
o que eu nunca vi antes
...
a chuva desceu e molhou o chão
ficou ali, ficou caindo, caiu mais e o carros não pararam
nem a conversa.
foi preciso admitir a beleza pra se ouvir o suspiro
virei vagarosa, com charme e ânsia de tocar o que falava como um canto, como a seda.
arfava quente, cheirava meu rosto, procurava a boca.



hoje na chuva corremos e fomos pequenos rindo, com frio
cabelos molhados.
pingos brilhantes dançavam no seu rosto
dançavam até o queixo para pingar!
seu olho tem uma cor que eu nunca vi e brilhavam nos pingos, refletindo a água no seu rosto em seus olhos.
assim como as lágrimas de quem ama tanto.

depois da chuva com o calor terno de quem compartilhou a mesma água,
eu me encolhi pequena
A Sua
criança que se encolhe no peito procurando o quente para proteger.
Me toca
com amor, meu amor.
meu olho fecha para você adivinhar sensações,
minha boca abre pra você me dar a alma.

desperta paixão,
se apaixona,
encanta
meu olho é seu olho, mesma visão

seus cílios tão grandes
fazem cócegas
igual faz na barriga as borboletas que você brota
a borboleta apaixonada que pousou.


perdão
palavras vão saindo
meu olho vai enchendo
amor explodindo!

toca em você dormindo agora no colchão, agarrado ao travesseiro
sonhando
com

a chuva.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

o que é o amor?

Daquele jeito ele acharia que ia vomitar ou achar ridículo aquele mundo dos comprometidos, dos que gostavam dessa coisa de homem com mulher e mulher com homem. Melhor beber, melhor chupar o limão azedo, provar do sal salgado e virar o álcool forte, acaba com tudo, desce queimando, queima como se fosse toda aquela repugnância enlouquecida de passar tanto tempo num tiroteio.
Em suas divagações, a beira da praia, queimando os braços e com o pé no mar, colocava-se a pensar sobre os olhos pequenos, o cabelo macio, a boca quente e convidativa, a pele que deveria ser boa de se roçar (ele não soube) e, as mãos, ah! as mãos, sabiam onde procurar o toque, sabiam o que fazer. Bom, sabiam até então. Mudam-se as genitálias mas ele não faz tanta questão...
Ele sabe, ele sabe, que o outro ainda tem vontade e as vezes ele pensa que é mentira mas por quê não simpatizar? "olá, beba da minha bebida, beija da boca que foi minha, toca o coração que é meu." Sorrindo, cordialmente, fazendo jus a sua personalidade de bom menino. Ouve a voz feminina, promessa da MPB, os mesmos gostos, não é? Gostam da mesma música e o mesmo garoto.
De repente, não mais que de repente, sua simpatia não foi tão forçada. Ele pensou que teria que fazer cena, evitar que a bebida subisse para não soltar besteiras e...nada. Pensou que havia mais de um ano desejando a mesma coisa em vão, ou não, fez bom proveito e tirou lasquinha do anjo. Tem uma chantagem no bolso e mais um nome para a sua lista de meninos e meninas. "Faça bom proveito, meu bom amigo, meu grande amigo, eu juro que meu orgulho é grande e acho que não te amei. Desculpa, você é paixão e complicação. Posso ter histórico crente mas sei que na hora de jogar na parede, minha voz é quente. Ameaça e arrepia."
Ele sabia, ele só precisava o ver tocando a mão dela, mexendo nos cabelos longos, coisa que ele estava longe de ter. Caiu na real, ainda bem, acabou, mais uma fase e mais amores doloridos e tentadores pra viver. Não o queira, não o procure. Só para diversão, só para rir dessa vida que dá situações tão embaraçosas, tantos corações sofridos e enganados...cuidado com o que faz com ela. "Não repita o que fez comigo, aproveita que é sexo oposto, faz direito."
Ele pensou.
Começo, meio e fim.


(à você, com amor de quem acompanhou)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

o ponto final das reticências

Ó, boa tarde, pode se sentar.
esse aqui é o Pedro. Eu não lembro quase nada dele, faz muito tempo, mas eu sei que ele usa chuteira no cotidiano, coisa que eu odeio. Odiei aquela chuteira.
bom...ali tem o Erick. Ele me lembra um personagem de filme, faz o tipo bonzinho mas tome cuidado com ele! Logo mais, o Ivan. Ah, já me disseram que viram por aí, tá meio zuado de drogas mas eu lembro alguma coisa de Gilberto Gil, A Paz, coisa de maconheiro, entende?
prefere uns mais próximos?
tem o Lucas, o Carlos, hm, eu citaria mais mas acho que já rolou uma acomodação. Você os conhece e tal, quem sou eu pra me intrometer né!
tem meninas também! A Tati, ela é meio nojenta. A Ana...Juliana! Mais marcantes? ah...você conhece, né? são poucas. Desse jeito é até mais fácil. ufa.
fica à vontade.
existem opniões diversificadas sobre mim mas é melhor falarmos de você! Desabafar, contar, se apegar...essas coisas íntimas.
Essas coisas que nós podemos fazer com um milhão de pessoas, com amigos, é! sim! amigos! Também porque, oras, quem sou eu uma hora dessas? Só a intermediação da relação. Eu acho pra você.
adoro amizades.
amo meus amigos.
Não são muitos mas, são ótimos.
e bons amigos são tão difíceis de encontrar. E quando é difícil, se caça. Ou cisca.

Se faltar atenção aí, tem uma lista inteira pra eu apresentar.
só não sei se vou achar todo mundo ha ha ha


o que a gente não faz pra poupar um amigo?
é tudo igual e se repete.
morreu.

talvez exista um sentimento.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

o riso

meio molhado, cheio de frescor.
assim deita e convida com olhos cerrados

úmido um pouco acima, a boca procura causar efeitos.

a boca
procura toda travessa com sede de tremiliques e pequenos, bem silenciosos, suspiros!
acha e não se contenta, procura onde está seco, a mão apalpa e fica quente.

revida

boca por baixo
fica aberta

o corpo agora arrepia e sente contente
de repente,

o olho chega muito perto
muito desfocado
escuro
mas ali tem um ponto de brilho! vê-se os cílios como num macro, bem na ponta, as curvinhas
faz cócegas.

muda os olhos
a mesma sensação

olha a frente para admirar

cria-se um riso.
(feliz, sensacional)