domingo, 18 de abril de 2010

Sessão na psicóloga

Ela viu na televisão uma boy band. Uma boy band que ela gostara quando tinha por volta de 8, 9 anos. E então ela se sentiu com tal idade novamente, mal foi preciso fechar os olhos para imaginar. De olhos fechados, pode ver o cd da banda em sua mão, enquanto dançava no quarto de sua avó. Ali morava apenas a avó e o pai. De repente viu a imagem do pai saindo do portão de casa, com uma mala na mão. Acordou num suspiro forte. Estava na sala de espera e então a psicóloga a chamou. Foi só a mesma perguntar a ela "como você está?" e então a menina começou a chorar e disse "meus pais se separaram!".
- Mas já faz muito tempo, achei que você tinha superado isso, veja bem...
- Como muito tempo? eu aposto que minha mãe tem um namorado! e meu pai anda com uma mulher que minha mãe diz ser a namorada dele!
- Sua mãe está namorando? seu pai arranjou outra mulher? o quê?
- as vezes eu me tranco no quarto e ligo o video game bem alto pra minha mãe não escutar meus choros...
- Querida, você está bem? quantos anos você tem?
- Oito.
- Dezoito!
- O quê?
A cabeça da menina começava a doer. Aquele sentimento de criança, tomado ali na sala de espera, foi somando com cenas que apareciam em sua cabeça. Eram lembranças muito dolorosas e sua cabeça parecia estar sendo apertada com força. Se viu no hospital, viu seus pais gritando, se viu cortando os pulsos e dormindo uma tarde inteira. Sentiu um beijo pela primeira vez. Sentiu a dor de paixonite que mal se sentia com a dor intensa na cabeça.
E tudo se somava. A inocência da criança era vencida pelos acontecimentos em sua cabeça. Ela se sentia responsável pela maioria das coisas que aconteciam nas lembranças. Sentiu vontade de gritar mas não gritou.
- Querida!
Seus olhos eram abertos e intactos. A dor na cabeça não a deixava mover sequer um músculo.
Dera um berro na sala da psicóloga e aos pés dela perguntou:
- Quem sou eu?
- O que tua dor disse?
- Sou uma criança cheia de estragos. Tive inocência misturada com a responsabilidade. Me obrigaram a ser madura.
- Não é mais uma criança.
A dor passou. Voltava a si.
- O que sou?
- É tudo que disse. Mas não é criança.
- O que eu faço?
- Vive.

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