terça-feira, 27 de julho de 2010

Peixes Estranhos

O Peixe olhou a isca e disse:
- Quero aquela minhoca!

O outro retrucou:
- Você está louco? Minhocas não são boas...sem contar que elas ajudam a terra, ou seja, elas são suicidas vindo aqui. Deixe que ela repense sobre seu suicídio, e depois voltem para terra. é o lugar delas! Não coma a minhoca, Estranho.

O Peixe achou engraçado a ingenuidade do outro e começou a dissertar:
- Esqueci que machucar a si mesmo, machuca os outros. porém, me perdi nesta selva de emoções e quando vi havia uma marca roxa no braço e não dava pra voltar atrás. Num estacionamento eu perdi a razão e fiz em dois minutos a quimioterapia de um câncer de dez anos. Hoje, eu penso na possibilidade de perdão libertador de almas.

Esqueci mesmo. Preciso de ajuda mas não quero ajuda. não quero que eles pensem que eu estou ficando louco e preciso ser amparado. não quero tratamento especial. eu poderia simplesmente ir a um daqueles médicos e pedir um Prozac. Eu tomaria, ficaria chapado e feliz, todos me achariam agradável. mas não seria eu. sempre me perguntei: "és uma pessoa ou um remédio?".
esqueci. esqueci que morder aquela minhoca é puxar todos para a beira d'água. todos perdem o oxigênio e vão perdendo a vida...então, eles se afastariam porque tenho uma energia negra pairando minha mente e não tenho limites. chorar dói. lembra das dores de meu corpo.

Tenho um arranhado no rosto, ao lado do meu olho direito. Fui eu que fiz isso. viu? sou maluco. eu tento me curar todos os dias. choro, ouço música clássica, faço meditação e me espelho nas pessoas serenas. Mas ai eles me cutucam e o pior acontece, daí eu acabo com a alegria de todo mundo. sou pouco inteligente quando o pior acontece. Eles dizem "eu to querendo te ajudar" mas é difícil ouvir. queria ser normal para não precisar de ajuda.
Apelo pro Prozac? Mordo a minhoca?

O outro espantado diz:
- Porque está dizendo sobre pessoas e tudo isso? o quê é isso?

O Peixe diz:
- É! Quer saber, amigo: a minhoca não é suicida. A intenção é que você a morda e se mate. Somos Peixes sensíveis, criativos mas muito vulneráveis aos cativos. Mordemos qualquer coisa...
é.
que pessoas o quê! Somos Peixes.

glub, glub...

terça-feira, 20 de julho de 2010

.

...

... ,
..
......

(eu divaguei sobre tantas coisas pra dizer)
........................

...

..
(no travesseiro, na epifania debaixo no chuveiro, quando me encolhi chorando no chão da sala)

... , :

, -

(quando gritei num sussurro da noite. na dor mais doída)
... ... , ..

(e agora é essa nebulosa sem cor, como um sentimento que vaga acima de nossas cabeças. sabemos que está lá mas sequer damos atenção. e com o tempo, com as coisas, esquecemos...a nebulosa se dissolve e sabemos que pequenas partículas do que um dia foi vapor estão espalhadas)

... .... ..., ...

(fica a memória. a lembrança. a história)

.

(talvez daqui muitos anos você só se lembre do último insulto que te chamei. e eu só lembre da última batida no telefone sem um adeus.
ou iremos crescer e saber conversar?

não me importa se não me ouviu. eu disse.
e agora posso voar sem sentir aquele peso

quem sabe nesse vôo eu não encontre um pedaço da partícula daquele sentimento.
feche os olhos
me venha lembranças)

... ... ... ... ,

..
.......

(posso ser mais jovem, mas aprendi que orgulho não mata. mas nos faz perder coisas, pessoas e a nós mesmos.

Todos precisam de amor. nunca haverá espaço pequeno para este sentimento. mas acho que não havia espaço. ficou muito estreito. muito preenchido por este tal de orgulho...

fica assim,
até que haja outra exclamação)

... ,




!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

dança na vida

Desliga o som, faz silêncio e abaixa a luz. Ela está vindo. A sua imposição vem dos olhos cor de mel e as tranças longas castanho-claro encantam um senhor que passava a rua. Sua pele não é morena mas não é branca, é cor de contraste perfeito com aqueles olhos, aquelas tranças, de tal sutileza que não tem nem importância se não tem protuberância nos seios ou mais um pouco atrás. Olha por cima e não diz uma palavra, as pessoas engolem seco e abaixam a cabeça para os absurdos. Na sala à meia luz que nós apagamos começa o som de um samba maluco que anuncia que a água vai desabar. Então ela dança, rodopia e se mexe nas esquerdas, nas direitas, as frentes. Mexe o quadril, rebola com despretensão, ergue o vestido e sacode as ancas. Todos desacreditam nos movimentos ensandecidos dela, se escondem sob panos vazados, não deixando que todo seu falso moralismo se esconda numa mentirosa vergonha alheia. Eles tinham vergonha dos movimentos atrevidos mas, se caso perguntassem porque ela fazia aquilo, de rápido encontro no ouvido ela ria gostoso "vai desabar água e é pro nosso bem". O bem que ninguém ouvia, debaixo dos panos que mais eram rendas safadas: não escondiam vergonha alguma, apenas mostravam que a louca não era ela, eram ridicularmente eles, tão medrosos de se enfiar debaixo da água que vai limpar. Ela não tinha medo de nada não, gozava da vida e debochava da morte. O que lhe era proibido, lhe dava um pedaço de prazer mas não o prazer todo. Rezava preces à Deus, plantava e colhia o que a terra permitia, beijava seu homem na testa e bem-dizia sobre todos. Tomava da sua cerveja gelada e balançava seu caldeirão de doce-de-leite ao fogo a lenha, isso quando não mandava seu homem fazer. Ô seu homem que sempre esteve ao lado, ela sabia e abusava, risonha e agradecida. Cometeu os erros do passado e agora procurava o abraço dos cinco filhos. Enchia de açúcar onde não podia, sabia do erro mas queria a satisfação. Mas afinal, quem disse que era erro? quem foi que disse que pra morrer, tem que ser velho? quem foi que disse que pra viver, tem que ser muito? talvez ela seja mais que uma só. e, não estando mais aqui para acalentar seu sorriso e dar o sublime passo de sua dança que anuncia a chuva, fica a mostra que pra ser feliz ela se permite viver. Vive mesmo, mulher! vai ser gauche na vida, balança os cabelos e joga os beijos!

o dia nove de julho esteve aí e não teve mais idade para marcar. dança com os anjos, que quando o sol raiou no nove eu sorri pra sua canção, Catarina.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

não falem mal do amor

Não cometam este pecado. Pecado, quando digo, não está agregado a visões cristãs ou de morais burguesas no sistema em que nos colocaram. Não cometam este pecado contigo mesmo, com seus sentimentos. O amor está elevado a tal plano transcendente que não cabe a você ir até o mesmo e lhe difamar as tuas injúrias.
A culpa não é dele. É sua.
Não confudam amor com os relacionamentos mal-resolvidos. Se ali houve o amor, que lá deixe permanecer, nas folhas de papel que amarelam com o tempo, nas fotos que perdem cor, no histórico da lembrança, no tato da memória. Deixem o amor lá...
Não o traga a tona agora, não diga que ele veio em hora errada. Não o culpe pelos desentendimentos. Culpe o que foi feito de errado e não o amor.
Não! Amor tens a tua mãe, ou a teu pai, avôs, família. Não estrague o sentimento que leva a título "amor" com comparações. É em nome desse pulsar que alguns de nós estamos vivos hoje. Alguém nos amou e nos deu a mão. Um bombeiro tem amor, não amor a pessoa que salva mas pela vida. Não pela vida da pessoa, mas o que representa vida e o que não pode desperdiça-la. E vocês ainda cospem no amor...
Afinal, não deem nomes ao amor. Ele não é paixão, não é carinho, não é carência, não é cativo, não pressiona, não te obriga a tornar-te responsável, não é temporário, não é definitivo mas é sempre eterno...Fica nos olhos. Na alma. Nas marcas. Memória.

E mesmo que nenhuma pessoa tenha lhe dado a mão, e nunca você ter estendido a ninguém, se vives num casulo tão apertado e pequeno, e gosta de vibrar dizendo que é tão auto-suficiente que não precisa de amor:

se ainda não pegou a navalha e cerrou teus pulsos é porque deves amor a ti mesmo.
de uma, duas, vertentes e paradoxos: nos faz vivo.
porque esse não devia ter nome. devia ser sentido, elevado, respirado, transpirado, cocegueado o íntimo, dedilhado os poros. talvez, assim, se sentisse melhor e não diria tantas coisas deste...estado de espírito. Desse arrepio, dessa voz que contamina e irradia luz no quarto.

que amo,
o anti-nomeado.
(amor!)