domingo, 30 de maio de 2010

sê perdão

espelho, espelho meu: o que faz me ter dando medo de um reflexo que é meu? inacreditável é acreditar que um anti-cristo esteja dentro de mim. inacreditável é ver que o meu pedestal é feito de lixo. o meu olhar pedante e minhas palavras desmoralizantes só garantem o asco.
quando foi mesmo que cresci? quando foi mesmo que vim parar aqui?
e por quê, nessa luta incessante do Bom, do Humilde, eu não luto em mim mas me comparo a eles? a elas? e se me remexe o suor de desespero num travesseiro, é porque eu não fui como eles. elas. pra quem eu estou mudando mesmo?
se no espelho o lábio pálido me assusta, envelheço por dentro. antes eu temia ao vulgar e hoje temo ao medíocre, o profano.
Que batalha mais perdida.
Que medo de exposição. que medo de engolir um orgulho...

fecho os olhos
e quando os abro
torço pra ainda te ver na minha frente
e pra não ter me virado as costas.

brigas comigo
mas não me deixes,
tu.

que batalha mais perdida...
sou eu
comigo mesmo.
que ser mais difícil de se conviver
do que eu
comigo mesmo.
que dor tão grande é o reflexo
meu
o meu mesmo.

onde ficaram os espelhos foscos? que escondem a escuridão dos olhos.
não nos permitem ver chorar
que não nos apresentaram Narciso de orgulho.

que dor é viver
aqui dentro.

não ter nascido como eles. a dor da vida não foi suficiente para tornar-me boa?

segue tentando...
e quando pode
se desculpa.
porque ainda não sou Eros. sou Narciso.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

o homem na sala

Tem um homem na sala. Eu não o conheço. Já ouvi falar mas não conheço. Pensando bem, não sei o nome dele. Eu acho que tem três filhos. Ou dois?
Eu o imagino de um jeito mas sei que ele não é assim. Então tento imaginar do jeito que me descreveram nas não sei, não consigo. eu podia descer as escadas e ver. mas eu não faço. que mal tem? se ela está feliz. eu já os ouvi rir umas duas vezes. ou mais. é bom que ele a faça rir. é bom que me faça também...daí não fico tensa. mas eu simplesmente não desço. foram 10 anos. e não lembro de homens na sala. não trazidos por ela. antes eu estava ocupada. agora simplesmente não faço nada e também não desço. se eu descer, eu verei. se eu ver, eu falo.
Ele deve ter fumado lá fora. subiu um cheiro. ela foi tomar banho, ele deve ter passado o tempo com o cigarro. eu fiquei aqui. será que o cheiro impregnou? ela não deve gostar. não sei. sentimento de mãe. de zelo. a gente sempre cuidou uma da outra. isso nunca aconteceu. aconteceu uma vez mas eu já conhecia o rosto, o nome e o histórico. eu preciso ver, não seria educado da minha parte não ver. eu nem não quero ver. eu quero mas não desço. fico presa.
Tem um homem na minha sala...
eu deveria olhar.
dizer oi.
dar um sorriso.
mas e se eles derem as mãos? eu vou ter que olhar pra lá? será que eles já são um do outro? eu cresci. eu tenho 18 anos. tô como criança que precisa pegar na mão. "Bárbara esse é o..."

já aconteceu antes. há 10 anos. mas era uma mulher na sala de jantar da casa dela. no portão, na verdade. ele me apresentou. tive ciúmes. não lembrava minha mãe. eu nem queria que fosse. mas é alguém entrando na vida de outra. e assim, sucessivamente.
tem um homem lá. será que ele entra na nossa vida? quer dizer, na vida dela. na minha mais ou menos. ele vai passar o natal com a gente?
eita.
ah. tem um homem.

deixa eu ver...
mãe, pega na minha mão?