sexta-feira, 7 de maio de 2010

o homem na sala

Tem um homem na sala. Eu não o conheço. Já ouvi falar mas não conheço. Pensando bem, não sei o nome dele. Eu acho que tem três filhos. Ou dois?
Eu o imagino de um jeito mas sei que ele não é assim. Então tento imaginar do jeito que me descreveram nas não sei, não consigo. eu podia descer as escadas e ver. mas eu não faço. que mal tem? se ela está feliz. eu já os ouvi rir umas duas vezes. ou mais. é bom que ele a faça rir. é bom que me faça também...daí não fico tensa. mas eu simplesmente não desço. foram 10 anos. e não lembro de homens na sala. não trazidos por ela. antes eu estava ocupada. agora simplesmente não faço nada e também não desço. se eu descer, eu verei. se eu ver, eu falo.
Ele deve ter fumado lá fora. subiu um cheiro. ela foi tomar banho, ele deve ter passado o tempo com o cigarro. eu fiquei aqui. será que o cheiro impregnou? ela não deve gostar. não sei. sentimento de mãe. de zelo. a gente sempre cuidou uma da outra. isso nunca aconteceu. aconteceu uma vez mas eu já conhecia o rosto, o nome e o histórico. eu preciso ver, não seria educado da minha parte não ver. eu nem não quero ver. eu quero mas não desço. fico presa.
Tem um homem na minha sala...
eu deveria olhar.
dizer oi.
dar um sorriso.
mas e se eles derem as mãos? eu vou ter que olhar pra lá? será que eles já são um do outro? eu cresci. eu tenho 18 anos. tô como criança que precisa pegar na mão. "Bárbara esse é o..."

já aconteceu antes. há 10 anos. mas era uma mulher na sala de jantar da casa dela. no portão, na verdade. ele me apresentou. tive ciúmes. não lembrava minha mãe. eu nem queria que fosse. mas é alguém entrando na vida de outra. e assim, sucessivamente.
tem um homem lá. será que ele entra na nossa vida? quer dizer, na vida dela. na minha mais ou menos. ele vai passar o natal com a gente?
eita.
ah. tem um homem.

deixa eu ver...
mãe, pega na minha mão?

2 comentários:

  1. Ah, que zelosa. Preocupação de mãe com filha é normal, mas de filha com mãe mais é mais bonito. Já falei que gosto muito como você consegue se expressar nos textos, né? Fiquei imaginando. Enfim, não sei se serve de consolo, mas pensa que amanhã é o dia dela, e provavelmente não terá homem na sala... sejá lá quem ele for.

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  2. Que gracinha, Bárbara!
    Sei perfeitamente como é isso. Quer dizer... não perfeitamente, mas sei que me sentiria assim se meus pais resolvessem ter outras pessoas...

    Enfim, espero que tenha descido, conhecido, avaliado... como as mães também fazem com a gente!

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