segunda-feira, 12 de julho de 2010

dança na vida

Desliga o som, faz silêncio e abaixa a luz. Ela está vindo. A sua imposição vem dos olhos cor de mel e as tranças longas castanho-claro encantam um senhor que passava a rua. Sua pele não é morena mas não é branca, é cor de contraste perfeito com aqueles olhos, aquelas tranças, de tal sutileza que não tem nem importância se não tem protuberância nos seios ou mais um pouco atrás. Olha por cima e não diz uma palavra, as pessoas engolem seco e abaixam a cabeça para os absurdos. Na sala à meia luz que nós apagamos começa o som de um samba maluco que anuncia que a água vai desabar. Então ela dança, rodopia e se mexe nas esquerdas, nas direitas, as frentes. Mexe o quadril, rebola com despretensão, ergue o vestido e sacode as ancas. Todos desacreditam nos movimentos ensandecidos dela, se escondem sob panos vazados, não deixando que todo seu falso moralismo se esconda numa mentirosa vergonha alheia. Eles tinham vergonha dos movimentos atrevidos mas, se caso perguntassem porque ela fazia aquilo, de rápido encontro no ouvido ela ria gostoso "vai desabar água e é pro nosso bem". O bem que ninguém ouvia, debaixo dos panos que mais eram rendas safadas: não escondiam vergonha alguma, apenas mostravam que a louca não era ela, eram ridicularmente eles, tão medrosos de se enfiar debaixo da água que vai limpar. Ela não tinha medo de nada não, gozava da vida e debochava da morte. O que lhe era proibido, lhe dava um pedaço de prazer mas não o prazer todo. Rezava preces à Deus, plantava e colhia o que a terra permitia, beijava seu homem na testa e bem-dizia sobre todos. Tomava da sua cerveja gelada e balançava seu caldeirão de doce-de-leite ao fogo a lenha, isso quando não mandava seu homem fazer. Ô seu homem que sempre esteve ao lado, ela sabia e abusava, risonha e agradecida. Cometeu os erros do passado e agora procurava o abraço dos cinco filhos. Enchia de açúcar onde não podia, sabia do erro mas queria a satisfação. Mas afinal, quem disse que era erro? quem foi que disse que pra morrer, tem que ser velho? quem foi que disse que pra viver, tem que ser muito? talvez ela seja mais que uma só. e, não estando mais aqui para acalentar seu sorriso e dar o sublime passo de sua dança que anuncia a chuva, fica a mostra que pra ser feliz ela se permite viver. Vive mesmo, mulher! vai ser gauche na vida, balança os cabelos e joga os beijos!

o dia nove de julho esteve aí e não teve mais idade para marcar. dança com os anjos, que quando o sol raiou no nove eu sorri pra sua canção, Catarina.

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