segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Monetário Inimigo

Com oito anos de idade. Eu disse oito. Eu já pensava: "será que daqui 10 anos tudo isso passa?"
porque é chato. Ligar pro pai, pedir dinheiro, se pedir, ele reclama. Diz que só serve pra isso, que tem cara de banco. Se eu não pedir, a mãe reclama e diz que eu não sei exigir o que é meu, o que eu posso.
Nem sei o que me pertence, vou saber se a conta bancária do meu pai me pertence?
Cortou o coração quando vi 100 reais gastos com o cachorro. Regulando. Eu faria maravilhas com 100 reais. Minha mãe faria.
Eu vivo bem. Enche o saco ficar enlouquecendo quando se precisa pegar ônibus, almoçar pra ficar a tarde na escola e não tem dinheiro. Aí pego do que é meu.
Mas eu vivo bem.
A gente sempre se vira.
Se vira com a pensão, a família é de duas pessoas e temos nossos luxos. Coisa simples, coisa que faz bem. Valeu aí, tá? A gente tá bem aqui.
Se um dia a gente foi família, sei lá cara, eu não sou apegada a seu dinheiro não. É que na hora que a coisa engasga e minha mãe diz não, eu tenho que apelar pro pai.
Porque eu nunca pensei em pedir dinheiro no farol ou me prostituir, sabe?
Desculpa o sarcasmo.
Mas enche o saco, boy. Enche muito.
Eu não quero dinheiro pra comprar bala, nem nunca fui daquelas adolescentes que fazem birra por um tênis de 500 pilas. Nunca pedi um celular novo, nunca pedi essas tecnologias, sei lá, eu só quero pagar as contas, pegar os ônibus que eu preciso, pagar os vestibulares, fazer a engrenagem funcionar pra um dia eu parar de usar o seu dinheiro.
(eu juro que não sei a quem estou me dirigindo. Não sei direito, na verdade).
No fim, fica todo mundo bem. Comida não falta, lugar pra dormir também não. Papel higiênico sempre teve e saneamento básico. A gente tem casa, por mais que queiram tirar a gente daqui. Ah é. Assim como a pensão tem prazo pra acabar, vamos sair daqui, baby. Pra onde? sei lá. Quem tá arrancando quem daqui, eu não sei direito, talvez eu vá pra uma cidade pequena idiota em que a casa do prefeito sai a preço de banana. Viu, menina? Só sucesso. Podemos sair de Itaquera e parar na puta que paril. ooooh, eu estava sendo educada até agora. Chega.
Fico nervosa demais como dinheiro é uma causa de discussão na minha vida. Logo eu que nem ligo! Não acredito nisso, é tão supérfulo.
Olha, apesar das palavras, eu to numa tranquila. Muito mesmo e, caso isso seja grosseiro, aconselho olhar com olhos de função fática.
Até eu dizer que consigo ficar sozinha nisso.
é
aí deixa eu comigo mesma.


Pra ela, ele é um desgraçado que montou uma nova família.
Pra ele, ela é uma louca desiquilibrada.
Pra mim, são meus pais que deveriam se comportar como pais.

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