quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Wagner

Não lembro do rosto, mas ainda vejo por inteiro o muleque que vinha no portão de casa "minha mãe tá aí?" Tinha jeito de bom rapaz, ainda que fosse muito menino pra ser um, era ingênuo e bom, bom rapaz. Filho de faxineira e mecânico, nunca deu essa desculpa pra se estrepar na vida. Aliás, a mãe trabalhava o dia todo e o menino limpava tudo, do banheiro a louça da cozinha, um bom rapaz. Uma vez o pai apanhou de policiais, por nada, ou por ser preto, o que não quer dizer nada, é um ser humano como a gente e todo mundo, mas o PM não quis saber e chutou a barriga do pai de Wagner.

São as coisas...eu não falei que Wagner era moreno, eu não falei da aparência porque não importa, mas eu também não me lembro.

O pai e a mãe de Wagner tiveram problemas. Depois que ele teve duas irmãs, eles tiveram desavenças. O pai era bom homem, simpático e gentil, mas fiquei sabendo que ele já levantou a mão pra mãe do Wagner. Levantou e abaixou. Saiu de casa, mas Wagner, apesar da preguiça de trabalhar, não se abalou. Wagner tinha ingenuidade, não era malandro.
A mãe dele fez curso de enfermagem, depois de anos faxinando a casa alheia, hoje é enfermeira. A mãe bonita e determinada, deixou tristes e orgulhosas as donas da casa que tinham a casa limpada. Era uma boa mulher! mas que brilhe bonito na enfermagem.

O primo de Wagner metido com coisa ruim foi morar com ele. Foi assaltar o mercadinho e Wagner estava junto, de gaiato no navio. O primo fugiu e Wagner, na ingenuidade, assinou como réu confesso. Foi pra cadeia. Cumpriu um ano, conseguiu acordo e estava dois meses pra sair!

Dois meses!

Ligaram de lá e vi a tia do Wagner chorando. Ele se suicidou na cadeia.
A mãe do Wagner disse que o corpo não tinha expressão de suicídio. Tinha sorriso que a alma deixou.

No corpo que eu não lembro do rosto, mas era do Wagner.

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