domingo, 30 de maio de 2010

sê perdão

espelho, espelho meu: o que faz me ter dando medo de um reflexo que é meu? inacreditável é acreditar que um anti-cristo esteja dentro de mim. inacreditável é ver que o meu pedestal é feito de lixo. o meu olhar pedante e minhas palavras desmoralizantes só garantem o asco.
quando foi mesmo que cresci? quando foi mesmo que vim parar aqui?
e por quê, nessa luta incessante do Bom, do Humilde, eu não luto em mim mas me comparo a eles? a elas? e se me remexe o suor de desespero num travesseiro, é porque eu não fui como eles. elas. pra quem eu estou mudando mesmo?
se no espelho o lábio pálido me assusta, envelheço por dentro. antes eu temia ao vulgar e hoje temo ao medíocre, o profano.
Que batalha mais perdida.
Que medo de exposição. que medo de engolir um orgulho...

fecho os olhos
e quando os abro
torço pra ainda te ver na minha frente
e pra não ter me virado as costas.

brigas comigo
mas não me deixes,
tu.

que batalha mais perdida...
sou eu
comigo mesmo.
que ser mais difícil de se conviver
do que eu
comigo mesmo.
que dor tão grande é o reflexo
meu
o meu mesmo.

onde ficaram os espelhos foscos? que escondem a escuridão dos olhos.
não nos permitem ver chorar
que não nos apresentaram Narciso de orgulho.

que dor é viver
aqui dentro.

não ter nascido como eles. a dor da vida não foi suficiente para tornar-me boa?

segue tentando...
e quando pode
se desculpa.
porque ainda não sou Eros. sou Narciso.

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