Desliga o som, faz silêncio e abaixa a luz. Ela está vindo. A sua imposição vem dos olhos cor de mel e as tranças longas castanho-claro encantam um senhor que passava a rua. Sua pele não é morena mas não é branca, é cor de contraste perfeito com aqueles olhos, aquelas tranças, de tal sutileza que não tem nem importância se não tem protuberância nos seios ou mais um pouco atrás. Olha por cima e não diz uma palavra, as pessoas engolem seco e abaixam a cabeça para os absurdos. Na sala à meia luz que nós apagamos começa o som de um samba maluco que anuncia que a água vai desabar. Então ela dança, rodopia e se mexe nas esquerdas, nas direitas, as frentes. Mexe o quadril, rebola com despretensão, ergue o vestido e sacode as ancas. Todos desacreditam nos movimentos ensandecidos dela, se escondem sob panos vazados, não deixando que todo seu falso moralismo se esconda numa mentirosa vergonha alheia. Eles tinham vergonha dos movimentos atrevidos mas, se caso perguntassem porque ela fazia aquilo, de rápido encontro no ouvido ela ria gostoso "vai desabar água e é pro nosso bem". O bem que ninguém ouvia, debaixo dos panos que mais eram rendas safadas: não escondiam vergonha alguma, apenas mostravam que a louca não era ela, eram ridicularmente eles, tão medrosos de se enfiar debaixo da água que vai limpar. Ela não tinha medo de nada não, gozava da vida e debochava da morte. O que lhe era proibido, lhe dava um pedaço de prazer mas não o prazer todo. Rezava preces à Deus, plantava e colhia o que a terra permitia, beijava seu homem na testa e bem-dizia sobre todos. Tomava da sua cerveja gelada e balançava seu caldeirão de doce-de-leite ao fogo a lenha, isso quando não mandava seu homem fazer. Ô seu homem que sempre esteve ao lado, ela sabia e abusava, risonha e agradecida. Cometeu os erros do passado e agora procurava o abraço dos cinco filhos. Enchia de açúcar onde não podia, sabia do erro mas queria a satisfação. Mas afinal, quem disse que era erro? quem foi que disse que pra morrer, tem que ser velho? quem foi que disse que pra viver, tem que ser muito? talvez ela seja mais que uma só. e, não estando mais aqui para acalentar seu sorriso e dar o sublime passo de sua dança que anuncia a chuva, fica a mostra que pra ser feliz ela se permite viver. Vive mesmo, mulher! vai ser gauche na vida, balança os cabelos e joga os beijos!
o dia nove de julho esteve aí e não teve mais idade para marcar. dança com os anjos, que quando o sol raiou no nove eu sorri pra sua canção, Catarina.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
não falem mal do amor
Não cometam este pecado. Pecado, quando digo, não está agregado a visões cristãs ou de morais burguesas no sistema em que nos colocaram. Não cometam este pecado contigo mesmo, com seus sentimentos. O amor está elevado a tal plano transcendente que não cabe a você ir até o mesmo e lhe difamar as tuas injúrias.
A culpa não é dele. É sua.
Não confudam amor com os relacionamentos mal-resolvidos. Se ali houve o amor, que lá deixe permanecer, nas folhas de papel que amarelam com o tempo, nas fotos que perdem cor, no histórico da lembrança, no tato da memória. Deixem o amor lá...
Não o traga a tona agora, não diga que ele veio em hora errada. Não o culpe pelos desentendimentos. Culpe o que foi feito de errado e não o amor.
Não! Amor tens a tua mãe, ou a teu pai, avôs, família. Não estrague o sentimento que leva a título "amor" com comparações. É em nome desse pulsar que alguns de nós estamos vivos hoje. Alguém nos amou e nos deu a mão. Um bombeiro tem amor, não amor a pessoa que salva mas pela vida. Não pela vida da pessoa, mas o que representa vida e o que não pode desperdiça-la. E vocês ainda cospem no amor...
Afinal, não deem nomes ao amor. Ele não é paixão, não é carinho, não é carência, não é cativo, não pressiona, não te obriga a tornar-te responsável, não é temporário, não é definitivo mas é sempre eterno...Fica nos olhos. Na alma. Nas marcas. Memória.
E mesmo que nenhuma pessoa tenha lhe dado a mão, e nunca você ter estendido a ninguém, se vives num casulo tão apertado e pequeno, e gosta de vibrar dizendo que é tão auto-suficiente que não precisa de amor:
se ainda não pegou a navalha e cerrou teus pulsos é porque deves amor a ti mesmo.
de uma, duas, vertentes e paradoxos: nos faz vivo.
porque esse não devia ter nome. devia ser sentido, elevado, respirado, transpirado, cocegueado o íntimo, dedilhado os poros. talvez, assim, se sentisse melhor e não diria tantas coisas deste...estado de espírito. Desse arrepio, dessa voz que contamina e irradia luz no quarto.
que amo,
o anti-nomeado.
(amor!)
A culpa não é dele. É sua.
Não confudam amor com os relacionamentos mal-resolvidos. Se ali houve o amor, que lá deixe permanecer, nas folhas de papel que amarelam com o tempo, nas fotos que perdem cor, no histórico da lembrança, no tato da memória. Deixem o amor lá...
Não o traga a tona agora, não diga que ele veio em hora errada. Não o culpe pelos desentendimentos. Culpe o que foi feito de errado e não o amor.
Não! Amor tens a tua mãe, ou a teu pai, avôs, família. Não estrague o sentimento que leva a título "amor" com comparações. É em nome desse pulsar que alguns de nós estamos vivos hoje. Alguém nos amou e nos deu a mão. Um bombeiro tem amor, não amor a pessoa que salva mas pela vida. Não pela vida da pessoa, mas o que representa vida e o que não pode desperdiça-la. E vocês ainda cospem no amor...
Afinal, não deem nomes ao amor. Ele não é paixão, não é carinho, não é carência, não é cativo, não pressiona, não te obriga a tornar-te responsável, não é temporário, não é definitivo mas é sempre eterno...Fica nos olhos. Na alma. Nas marcas. Memória.
E mesmo que nenhuma pessoa tenha lhe dado a mão, e nunca você ter estendido a ninguém, se vives num casulo tão apertado e pequeno, e gosta de vibrar dizendo que é tão auto-suficiente que não precisa de amor:
se ainda não pegou a navalha e cerrou teus pulsos é porque deves amor a ti mesmo.
de uma, duas, vertentes e paradoxos: nos faz vivo.
porque esse não devia ter nome. devia ser sentido, elevado, respirado, transpirado, cocegueado o íntimo, dedilhado os poros. talvez, assim, se sentisse melhor e não diria tantas coisas deste...estado de espírito. Desse arrepio, dessa voz que contamina e irradia luz no quarto.
que amo,
o anti-nomeado.
(amor!)
quinta-feira, 24 de junho de 2010
a menina me olhava
Ela olhava com timidez a fita que fazia na minha blusa, na altura no meu colo. As vezes corria os olhos para os meus e logo os tirava. Distraia. Me olhava através de um óculos de armação tom magenta, ou qualquer outra nuance de rosa. Eu fingia que não reparava nos olhos dela em mim. Ela também olhou minha mochila grande, atrapalhada e cinza sem-graça. Mas olhava para a fita. Tinha uma sujeira na bochecha, como se fosse de doce. Eu fui pequena por tanto tempo, miúda, protegida. Observava à todos e detalhes não me faltavam. Ali eu me perguntava, que grande coisa te atrai o olhar, menina?
Me fitava. E não era séria, nem sorrindo, era de observação. Como se estivesse analisando e esmiuçando os detalhes de cada florzinha da minha blusa. Talvez ela estivesse pirando nos desenhos e fazendo um conto na estampa da minha roupa. Eu olhei os cabelos lisos castanhos que enrolavam nas pontinhas. Vi seu jeito singelo e independente de amarrar o tênis.
Não sabia quem era espetáculo e quem era espectador. O interesse partiu da menina de me olhar e ali procurar alguma referência, alguma história, perder-se os olhos em algo nunca antes visto ou rotineiramente visto, você olha para todos, menina?
Levantei e ela olhou minha meia que percorria minha perna. Parou estática e pregou os olhos sem nem piscar, e na minha altura eu já não sabia o que era surpreendente para mim e o que era para ela. Olhava. De repente, fitou meus olhos e então eu mudei a expressão do meu rosto para ela. Ela não reagiu e continuou a me olhar.
A perdi. Em meio a aglomeração das escadas do metrô, um braço rela no meu e era ela, sem nem perceber que havia me tocado e sem saber direito por onde estava andando, tortinha e desorientada. Foi quando senti aquele toque. Ela tomou uma mão e foi adiante. Então certifiquei que a menina era de um tamanho que batia dois palmos abaixo do meu ombro.
Me fitava. E não era séria, nem sorrindo, era de observação. Como se estivesse analisando e esmiuçando os detalhes de cada florzinha da minha blusa. Talvez ela estivesse pirando nos desenhos e fazendo um conto na estampa da minha roupa. Eu olhei os cabelos lisos castanhos que enrolavam nas pontinhas. Vi seu jeito singelo e independente de amarrar o tênis.
Não sabia quem era espetáculo e quem era espectador. O interesse partiu da menina de me olhar e ali procurar alguma referência, alguma história, perder-se os olhos em algo nunca antes visto ou rotineiramente visto, você olha para todos, menina?
Levantei e ela olhou minha meia que percorria minha perna. Parou estática e pregou os olhos sem nem piscar, e na minha altura eu já não sabia o que era surpreendente para mim e o que era para ela. Olhava. De repente, fitou meus olhos e então eu mudei a expressão do meu rosto para ela. Ela não reagiu e continuou a me olhar.
A perdi. Em meio a aglomeração das escadas do metrô, um braço rela no meu e era ela, sem nem perceber que havia me tocado e sem saber direito por onde estava andando, tortinha e desorientada. Foi quando senti aquele toque. Ela tomou uma mão e foi adiante. Então certifiquei que a menina era de um tamanho que batia dois palmos abaixo do meu ombro.
domingo, 6 de junho de 2010
Suicídio
Vivo do egoísmo e prezo por mim o centro do universo. Não sou humilde. Invejo os humildes. Quando penso que estou pensando em nós como um todo, estou pensando em mim com todos, em somente eu, com grande ênfase. Grito. Argumento absurdos. Uso palavras para ofender, machucar. Palavras são minhas armas - não atingem à todos - mas são. Faço algumas promessas e alguns dizem que são falsas. Eu não sei e talvez esse seja meu maior defeito: não saber. Faço sem pensar mas não uso mais "impulso" no meu vocabulário. Ajo com a emoção. Sou energicamente raivosa e capaz de destruir tudo que construi com o mais silencioso primor de um equilíbrio racional. Construo e destruo. A mesma força que uso para agradar, uso para causar o amargamento. Exagero. Choro. Tenho vontade de usar minhas mãos para agredir mas hesito.
Vou matar. Dar morte. Privar da vida. Extinguir. Fazer murchar, secar. Farei tudo isso a essa pessoa que foi construída sob mim. Eu nem tinha visto e, quando notei, já estava sendo tal persona. Contrário de ter orgulho de assassinar-me e me expor em praça pública, me enterrarei no mais profundo sete palmos do "Existiu" para nunca mais sair. E odiar com força tudo que sofri por viver dentro de um corpo que não suportei. Cansaço de chorar de arrependimento por algo que disse há dois minutos.
Insuportável respirar aprisionada numa personalidade que não me pertence. Que não entendem e não conseguem entender. Que atribuem meus erros a ausência de emoção paterna.
Que seja,
estou matando.
vou voar em campos serenos
ser humilde em vestes brancas.
e só irei chorar da emoção do sublime respirar da vida. sorrirei para os que tentei doer com palavras.
mo
r
te
à
...
Vou matar. Dar morte. Privar da vida. Extinguir. Fazer murchar, secar. Farei tudo isso a essa pessoa que foi construída sob mim. Eu nem tinha visto e, quando notei, já estava sendo tal persona. Contrário de ter orgulho de assassinar-me e me expor em praça pública, me enterrarei no mais profundo sete palmos do "Existiu" para nunca mais sair. E odiar com força tudo que sofri por viver dentro de um corpo que não suportei. Cansaço de chorar de arrependimento por algo que disse há dois minutos.
Insuportável respirar aprisionada numa personalidade que não me pertence. Que não entendem e não conseguem entender. Que atribuem meus erros a ausência de emoção paterna.
Que seja,
estou matando.
vou voar em campos serenos
ser humilde em vestes brancas.
e só irei chorar da emoção do sublime respirar da vida. sorrirei para os que tentei doer com palavras.
mo
r
te
à
...
terça-feira, 1 de junho de 2010
sensível
Se eu deitar meu corpo estendido e nu sob a superfície horizontal de minha cama, posso sentir da janela a brisa entrando e fazendo uma incômoda cócega nas minhas costas, brisa gélida que faz o corpo arrepiar, sentir frio. Ainda assim, se pegar o mais confortável cobertor para me esquentar e ali fazendo movimentos para acelerar o calor, após isso o cobertor faria a sua função passiva de apenas pousar sobre minha pele e ali abafar os 36 graus do meu corpo.
E se eu comer do doce mais saboroso, suculento e com leve toque azedo para aguçar, ali só se passa os pedaços pelos meus dentes e se despede para minha glote. à grosso modo, absorve nutrientes para o que restou virar merda. Não há vestígios agradáveis, nem sequer um brilho para olhar, a não ser que o papel do doce seja muito bonito.
Ainda que eu usar o mais ensandecido lisérgico e fizer uma viagem paranormal para um mundo de cores estouradas, sons progressivos e ecos de elfos, eu sei inconscientemente que em alguma hora as minhas asas irão quebrar e que me espatifarei no chão. Seguido, terei convulsões e, por que não?, aquele doce pode voltar pela minha boca novamente...E questionar, e chorar e voltar ao mundo não-ácido.
Se conheço a sua mão quente para esparramar sob meu corpo e brincar em qualquer canto que até eu mesma desconheça, posso deixar a janela aberta porque sei que podes me abraçar quando as primeiras bolinhas de arrepio aparecerem. E o confortável cobertor pode nos envolver e nos deixar mais perto, ou pode ser dispensável já que nossos 72 graus são suficientes para não haver incômodo.
O doce eu posso deixar para mais tarde, se aqui dentro da minha boca eu posso colocar a sua língua. Se posso te apalpar enquanto o sinto e após o ato, posso olhar as cores, as luzes e os raios que incendeiam os seus olhos. Posso fazer um sorriso nascer no canto da minha boca, irradiando uma gargalhada da sua. E sonhar com o encanto que são os sons, os tons e os cheiros que você faz.
Ah. Se na sensibilidade do seu toque ou o que é nós dois horizontalmente encaixados, posso me elevar a um plano transcendental onde todas as cores se misturam e o branco se faz. Pureza branca, tranquila, serena...As vezes ouço anjos mas tudo me parece no mais breve silêncio, quebrado apenas quando seu sussurro umidece meu ouvido. Vejo luzes e sei que minhas asas não podem se quebrar, porque tu me abraças e nos seus olhos fechados apertados não vejo a pretensão de me soltar. Voamos. Enrolados, rindo.
Porque o que é um abraço num tronco ocre de uma árvore centenária, senão o abraço no teu peito que me compensa com um ritmo, uma batida, um compasso. Abraço e sinto batidas no peito que se aceleram. O ponto emocional do seu cérebro é excitado e as batidas podem fazer música com as minhas.
Uma música que fazemos desde o dia em que me levantaste no meio da rua, debaixo da chuva e assim com um beijo selou parceria.
Música que é trilha sonora...
...do nosso longa-metragem sem fim.
E se eu comer do doce mais saboroso, suculento e com leve toque azedo para aguçar, ali só se passa os pedaços pelos meus dentes e se despede para minha glote. à grosso modo, absorve nutrientes para o que restou virar merda. Não há vestígios agradáveis, nem sequer um brilho para olhar, a não ser que o papel do doce seja muito bonito.
Ainda que eu usar o mais ensandecido lisérgico e fizer uma viagem paranormal para um mundo de cores estouradas, sons progressivos e ecos de elfos, eu sei inconscientemente que em alguma hora as minhas asas irão quebrar e que me espatifarei no chão. Seguido, terei convulsões e, por que não?, aquele doce pode voltar pela minha boca novamente...E questionar, e chorar e voltar ao mundo não-ácido.
Se conheço a sua mão quente para esparramar sob meu corpo e brincar em qualquer canto que até eu mesma desconheça, posso deixar a janela aberta porque sei que podes me abraçar quando as primeiras bolinhas de arrepio aparecerem. E o confortável cobertor pode nos envolver e nos deixar mais perto, ou pode ser dispensável já que nossos 72 graus são suficientes para não haver incômodo.
O doce eu posso deixar para mais tarde, se aqui dentro da minha boca eu posso colocar a sua língua. Se posso te apalpar enquanto o sinto e após o ato, posso olhar as cores, as luzes e os raios que incendeiam os seus olhos. Posso fazer um sorriso nascer no canto da minha boca, irradiando uma gargalhada da sua. E sonhar com o encanto que são os sons, os tons e os cheiros que você faz.
Ah. Se na sensibilidade do seu toque ou o que é nós dois horizontalmente encaixados, posso me elevar a um plano transcendental onde todas as cores se misturam e o branco se faz. Pureza branca, tranquila, serena...As vezes ouço anjos mas tudo me parece no mais breve silêncio, quebrado apenas quando seu sussurro umidece meu ouvido. Vejo luzes e sei que minhas asas não podem se quebrar, porque tu me abraças e nos seus olhos fechados apertados não vejo a pretensão de me soltar. Voamos. Enrolados, rindo.
Porque o que é um abraço num tronco ocre de uma árvore centenária, senão o abraço no teu peito que me compensa com um ritmo, uma batida, um compasso. Abraço e sinto batidas no peito que se aceleram. O ponto emocional do seu cérebro é excitado e as batidas podem fazer música com as minhas.
Uma música que fazemos desde o dia em que me levantaste no meio da rua, debaixo da chuva e assim com um beijo selou parceria.
Música que é trilha sonora...
...do nosso longa-metragem sem fim.
domingo, 30 de maio de 2010
sê perdão
espelho, espelho meu: o que faz me ter dando medo de um reflexo que é meu? inacreditável é acreditar que um anti-cristo esteja dentro de mim. inacreditável é ver que o meu pedestal é feito de lixo. o meu olhar pedante e minhas palavras desmoralizantes só garantem o asco.
quando foi mesmo que cresci? quando foi mesmo que vim parar aqui?
e por quê, nessa luta incessante do Bom, do Humilde, eu não luto em mim mas me comparo a eles? a elas? e se me remexe o suor de desespero num travesseiro, é porque eu não fui como eles. elas. pra quem eu estou mudando mesmo?
se no espelho o lábio pálido me assusta, envelheço por dentro. antes eu temia ao vulgar e hoje temo ao medíocre, o profano.
Que batalha mais perdida.
Que medo de exposição. que medo de engolir um orgulho...
fecho os olhos
e quando os abro
torço pra ainda te ver na minha frente
e pra não ter me virado as costas.
brigas comigo
mas não me deixes,
tu.
que batalha mais perdida...
sou eu
comigo mesmo.
que ser mais difícil de se conviver
do que eu
comigo mesmo.
que dor tão grande é o reflexo
meu
o meu mesmo.
onde ficaram os espelhos foscos? que escondem a escuridão dos olhos.
não nos permitem ver chorar
que não nos apresentaram Narciso de orgulho.
que dor é viver
aqui dentro.
não ter nascido como eles. a dor da vida não foi suficiente para tornar-me boa?
segue tentando...
e quando pode
se desculpa.
porque ainda não sou Eros. sou Narciso.
quando foi mesmo que cresci? quando foi mesmo que vim parar aqui?
e por quê, nessa luta incessante do Bom, do Humilde, eu não luto em mim mas me comparo a eles? a elas? e se me remexe o suor de desespero num travesseiro, é porque eu não fui como eles. elas. pra quem eu estou mudando mesmo?
se no espelho o lábio pálido me assusta, envelheço por dentro. antes eu temia ao vulgar e hoje temo ao medíocre, o profano.
Que batalha mais perdida.
Que medo de exposição. que medo de engolir um orgulho...
fecho os olhos
e quando os abro
torço pra ainda te ver na minha frente
e pra não ter me virado as costas.
brigas comigo
mas não me deixes,
tu.
que batalha mais perdida...
sou eu
comigo mesmo.
que ser mais difícil de se conviver
do que eu
comigo mesmo.
que dor tão grande é o reflexo
meu
o meu mesmo.
onde ficaram os espelhos foscos? que escondem a escuridão dos olhos.
não nos permitem ver chorar
que não nos apresentaram Narciso de orgulho.
que dor é viver
aqui dentro.
não ter nascido como eles. a dor da vida não foi suficiente para tornar-me boa?
segue tentando...
e quando pode
se desculpa.
porque ainda não sou Eros. sou Narciso.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
o homem na sala
Tem um homem na sala. Eu não o conheço. Já ouvi falar mas não conheço. Pensando bem, não sei o nome dele. Eu acho que tem três filhos. Ou dois?
Eu o imagino de um jeito mas sei que ele não é assim. Então tento imaginar do jeito que me descreveram nas não sei, não consigo. eu podia descer as escadas e ver. mas eu não faço. que mal tem? se ela está feliz. eu já os ouvi rir umas duas vezes. ou mais. é bom que ele a faça rir. é bom que me faça também...daí não fico tensa. mas eu simplesmente não desço. foram 10 anos. e não lembro de homens na sala. não trazidos por ela. antes eu estava ocupada. agora simplesmente não faço nada e também não desço. se eu descer, eu verei. se eu ver, eu falo.
Ele deve ter fumado lá fora. subiu um cheiro. ela foi tomar banho, ele deve ter passado o tempo com o cigarro. eu fiquei aqui. será que o cheiro impregnou? ela não deve gostar. não sei. sentimento de mãe. de zelo. a gente sempre cuidou uma da outra. isso nunca aconteceu. aconteceu uma vez mas eu já conhecia o rosto, o nome e o histórico. eu preciso ver, não seria educado da minha parte não ver. eu nem não quero ver. eu quero mas não desço. fico presa.
Tem um homem na minha sala...
eu deveria olhar.
dizer oi.
dar um sorriso.
mas e se eles derem as mãos? eu vou ter que olhar pra lá? será que eles já são um do outro? eu cresci. eu tenho 18 anos. tô como criança que precisa pegar na mão. "Bárbara esse é o..."
ué
já aconteceu antes. há 10 anos. mas era uma mulher na sala de jantar da casa dela. no portão, na verdade. ele me apresentou. tive ciúmes. não lembrava minha mãe. eu nem queria que fosse. mas é alguém entrando na vida de outra. e assim, sucessivamente.
tem um homem lá. será que ele entra na nossa vida? quer dizer, na vida dela. na minha mais ou menos. ele vai passar o natal com a gente?
eita.
ah. tem um homem.
deixa eu ver...
mãe, pega na minha mão?
Eu o imagino de um jeito mas sei que ele não é assim. Então tento imaginar do jeito que me descreveram nas não sei, não consigo. eu podia descer as escadas e ver. mas eu não faço. que mal tem? se ela está feliz. eu já os ouvi rir umas duas vezes. ou mais. é bom que ele a faça rir. é bom que me faça também...daí não fico tensa. mas eu simplesmente não desço. foram 10 anos. e não lembro de homens na sala. não trazidos por ela. antes eu estava ocupada. agora simplesmente não faço nada e também não desço. se eu descer, eu verei. se eu ver, eu falo.
Ele deve ter fumado lá fora. subiu um cheiro. ela foi tomar banho, ele deve ter passado o tempo com o cigarro. eu fiquei aqui. será que o cheiro impregnou? ela não deve gostar. não sei. sentimento de mãe. de zelo. a gente sempre cuidou uma da outra. isso nunca aconteceu. aconteceu uma vez mas eu já conhecia o rosto, o nome e o histórico. eu preciso ver, não seria educado da minha parte não ver. eu nem não quero ver. eu quero mas não desço. fico presa.
Tem um homem na minha sala...
eu deveria olhar.
dizer oi.
dar um sorriso.
mas e se eles derem as mãos? eu vou ter que olhar pra lá? será que eles já são um do outro? eu cresci. eu tenho 18 anos. tô como criança que precisa pegar na mão. "Bárbara esse é o..."
ué
já aconteceu antes. há 10 anos. mas era uma mulher na sala de jantar da casa dela. no portão, na verdade. ele me apresentou. tive ciúmes. não lembrava minha mãe. eu nem queria que fosse. mas é alguém entrando na vida de outra. e assim, sucessivamente.
tem um homem lá. será que ele entra na nossa vida? quer dizer, na vida dela. na minha mais ou menos. ele vai passar o natal com a gente?
eita.
ah. tem um homem.
deixa eu ver...
mãe, pega na minha mão?
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